PARAR E PENSAR
Vera Vilela
 

Ouço palmas e vou até a porta, olho para fora e vejo uma senhora idosa com uma criança segura em sua mão que diz:

- Ô dona! Minha filha veio do Paraná com cinco crianças e na última chuva a casinha que ela morava inundou e acabou com tudo o que ela tem. A senhora tem panela velha, roupas ou qualquer coisa que ajude?

Me irritei com a mulher tão cedo batendo em minha casa provavelmente contando uma mentira e respondi:

- Não tenho nada não. É fim de mês e ainda nem recebi.

- Mas eu não estou pedindo dinheiro não, quero apenas coisas que a senhora não use mais.

Por um instante me contive e pensei: Tsc...tsc... que coisa feia! Você tem tanta coisa que não usa e está aí irritada com uma pessoa que se humilha à sua porta?

- Senhora! Pode ser uma panela de pressão? Tenho uma aqui que não segura muita pressão, mas dá para cozinhar.

- Claro! Deus te abençoe!

Fui pegar então a panela e me lembrei de uma caneca, um caldeirão e uma panelinha sem uso. Aproveitei e peguei aqueles saquinhos de macarrão e outras coisas que abrimos sem usar todo o conteúdo e acabamos guardando e esquecendo.

Minha filha chegou e fez questão de pegar tudo aquilo e levar até o portão, orgulhosa.

Voltou contando toda a história da mulher – ela adora um papo – que conseguiu uma casinha para morar após a enchente, mas não tem o que por dentro e nem cozinhar. Minha filha pediu também para ela passar no fim de semana, pois ia separar umas roupas.

Acho que a vida é feita disso: de pequenos atos e exemplos, se conseguíssemos sempre parar por um instante, racionar, antes de tomar uma decisão acho que o mundo seria muito melhor.

Logo no começo do ano tive duas chances para mudar, uma foi essa aí e outra foi um julgamento errado de um amigo. Deus é muito bom comigo, me mostra sempre meus erros e, graças a Deus a tempo de corrigi-los.

Montamos verdadeiros museus dentro de nossa casa com livros, cadernos, roupas, brinquedos, eletrodomésticos, enquanto tem tanta gente por aí que ficaria feliz com apenas uma dessas peças. Quanto calçado você tem guardado que não usa a pelo menos uns 6 meses ou até mais? E roupa? E brinquedos? Porque não passar isso tudo para frente?

Quem já não teve um liquidificador velho e funcionando guardado durante meses porque foi trocado por um mais potente? E ele é tão útil na preparação de uma papinha ou suco para um bebê. Aquele aparelho de som antigo, encostado, traria muita alegria para quem não tem nenhum.

Acho que vou começar este ano tentando fazer isso: Pensar muito bem antes de agir, principalmente reavaliar meus atos e conceitos e, fazer uma limpeza em casa, passando para frente tudo o que não me serve e que poderia ser útil a alguém.

Talvez o problema aqui não seja piedade, mas sim solidariedade e humanidade. O que importa mesmo é a inspiração que temos e que precisamos passar adiante. Espero que tenha conseguido.

 
 

fale com a autora