ÚLTIMO ENCONTRO
Bruno Freitas
 
 

Por diversas vezes eu fico me perguntando o que será que as mulheres conversam no banheiro feminino. Será que elas falam sobre a economia global e a crescente onda de globalização? Será que elas falam sobre a careca de um amigo em comum e do careca do amigo em comum? Será que elas comentam a desenvoltura do amigo em comum e sua performance? Será que elas falam mal de outra amiga em comum e ausente? Será que comentam o aumento da gasolina? O resultado do futebol? Poderia ser o último capítulo da novela?

Este é o grande mistério envolvendo o sanitário feminino. Por trás daquelas portas reside a grande pergunta, o grande enigma da sociedade masculina. O que será que ocorre atrás daquelas portas com emblemas femininos. Imagino um mundo de encanto e magia cheio de flores e paredes cor-de-rosa. Imagino pias de esmeraldas e vasos de diamantes. O mármore deve ir até o teto, todo jateado de cores quentes e bem femininas. Luminárias fluorecentes e brilhantes. A água que sai da torneira deve ser quentinha e bem confortável. Neste lugar não existe espaço para mictórios e o jato de ar quente utilizado pra secar as mãos deve conter gás do riso pra elas saírem tão felizes do banheiro.

Você também já se perguntou o porque de elas sempre irem no banheiro em duplas? Este é outro mistério que aquelas portas cerram do lado de dentro e que nós homens, jamais saberemos. Será preciso duas para acionar uma chave especial que acionem um mecanismo especial que nós homens, nem mesmo imaginamos. Este mistério será enterrado para sempre atrás daquelas portas cheias de indicações proibitivas aos homens.

Nós homens só entramos naquele lugar cheio de mistério quando éramos crianças e pequenos demais para fazer tudo sozinhos. O engraçado é que nós nunca nos lembramos do que ocorria lá dentro do banheiro feminino. Será que sofremos uma lavagem cerebral para esquecermos tudo o que vimos? Tenho pensado em treinar meu filho de três anos para descrever minuciosamente o que ocorre lá dentro. Mas quando ele concatenar as coisas e tiver a capacidade de descrever minuciosamente o que ocorre lá dentro do banheiro feminino, ele já vai estar com idade de ir no banheiro sozinho e no máximo acompanhar o pai no banheiro masculino.

O banheiro masculino do lado de dentro é um tédio só. Homem que é homem não olha para outro homem dentro do banheiro dos homens. Existe um silêncio que paira no ar como se pudesse tocar. Você, mulher, que pensa que os homens comentam sobre futebol, sobre a gostosa da vizinha, do novo ensaio da playboy, do novo escândalo político do país, estão completamente enganadas. Homem que é homem não olha na cara de outro homem dentro do banheiro dos homens. Não é um regulamento combinado quando somos crianças, nem um regra específica ditada para obedecermos como se fossemos condicionados. Apenas não nos damos bem dentro de um banheiro.

O banheiro masculino é sujo e tem um cheiro insuportável de mijo. O banheiro masculino tem mictórios velhos e enferrujados, vasos sanitários recheados de bosta, pichações nas paredes e as vezes alguns espelhos quebrados. O banheiro masculino não tem papel higiênico, nem toalha de papel para as mãos e muitas vezes o lixo está tão entupido que transborda para os lados formando uma montanha de papel no chão.

Homem que é homem não cumprimenta outro homem no banheiro dos homens, nem mesmo se esse homem é amigo do homem. Homem só olha para outro homem no banheiro dos homens e pensa consigo mesmo que espera que seja a primeira e última vez que os dois se encontram nesta situação tão embaraçosa.

 
 

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