ÚLTIMO ENCONTRO?
Edson Campolina
 
 

Acabara de sair do escritório do banco. Como todo meu final de tarde, subia a rua Rio de Janeiro rumo à Avenida Augusto de Lima para tomar o ônibus até o Estoril. Apesar da meia dúzia de anos já gastos na outrora “Cidade Jardim”, ainda caminhava por suas ruas como um capiau tímido, cabisbaixo e com a sensação de que todos aqueles transeuntes alucinados com a escassez do tempo estivessem a me julgar.

Naquele crepúsculo o romper da ladeira ficaria pra sempre gravado em minha memória. Pois cruzara meus passos com os passos do meu Anjo Róseo de Cabelos Dourados e Encaracolados. Quase nos esbarrando, foi fácil reconhecermo-nos durante as frações de segundos que nossos olhares se encontraram, mesmo após tanta vida passada distante. Uma coincidência de hora e lugar que o destino nos reservara num cantinho entre milhares de quilômetros de cidade e milhares de zumbis apressados. Por sorte estava só, minha esposa não me acompanhava. Do contrário, talvez nem tivesse coragem de interromper a jornada e abraça-la, apesar de hoje sentir-me capaz de fazê-lo na presença do cônjuge.

Conversamos rapidamente, mas no íntimo a vontade era de alongar as horas e a prosa. Qualquer terceiro curioso perceberia esta vontade em nós dois, tamanha a saudade e carinho em nossos sorrisos. Mas intimamente sabíamos que nossas vidas não se convergiriam mais para encontros duradouros.

Mais de década depois me resta na memória somente aquela imagem dela, com a mesma pele rosada, voz rouca, cabelos dourados, jeitinho espevitado e o incontestável carinho que sempre me oferecera. As palavras trocadas perderam-se no tempo, mas não a saudade do primeiro amor de Carnaval, do amor da adolescência. Se o primeiro amor não se esquece, meu Anjo Róseo de Cabelos Dourados e Encaracolados estará sempre a bater suas asas sobre minha cabeça, ventilando a saudade.

Relembrar aquela que o destino sempre desviou de meus caminhos, por seu livre arbítrio, me causa também saudade daquele quase-homem-feito que mal sabia identificar as possibilidades que a felicidade o ofereceria. Resta-me o gostinho de uma cólica, um aperto no coração e uma – talvez – vã esperança de um último encontro com meu Anjo Róseo de Cabelos Dourados e Encaracolados.

 
 
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