O FASCÍNIO DA LÍNGUA
Alberto Carmo

- Fem cá! - ela disse a uma amiga. Não me deixa sozinha aqui no meio dessa felharia!

Era uma festinha dessas de escritório. Nunca havia percebido mais precisamente aquela garota. Para ser sincero, havia sim; não a pessoa dela, mas as pernas dela, quando vinha fazer sei lá o quê no meu computador. Nelas, as pernas dela, eu havia reparado com, digamos, certa atenção.

Aquele sotaque delicioso, mesclado com a ponta da língua ao dizer "Fem cá" me arrebatou. De repente percebi que ela era fascinante. Tinha que beijar aquela boca, nem que fosse meu último ato no planeta.

Fiz que fiz, cisquei aqui e ali, e tentei um chega mais. Ia me aposentar dali a uns meses e achei que um ato de última hora não desabonaria minha folha corrida. Afinal de contas, eu bem que merecia um refresco nessas alturas.

Arrisquei um lero.

- Você não é a garota que cuida do meu computador, benzinho? - cheguei matando.

- O senhor é aquele que ainda tem o Windows 3.1? Sou sim! - ela respondeu amistosamente.

- Não me chame de senhor. Posso ser seu... seu... tio? - perguntei-me mentalmente antes de dizer e acabei dizendo.

- Tio não, fofô! - ela respondeu.

Fofo, fofinho, isso me lembrou dos meus tempos de lua-de-mel! É hoje! - pensei.

Mas, peraí, o que faz aquele circunflexo em cima do meu fofo?

Ela interrompeu meu raciocínio e avisou: - Fou dar um giro por aí, fofô! - e se foi.

Foi então que minha ficha caiu, com circunflexo e tudo! Não tive outra alternativa, a não ser ir ao bar e decretar funebremente:

Me dá uma fodka com gelo!

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