DESMANCHA FASCÍNIO
José Luís Nóbrega
 
 

Dizem alguns que aos doze anos ela começou a sentir a falta dele. Algumas amigas mais velhas já o possuíam, menos ela, a "menininha da mamãe".

E foi assim, escondida da mamãe, que ela saiu de casa à procura dele. Enquanto procurava, a insegurança e o medo faziam aquele pequeno corpo tremer. E se alguém a visse ali, aos doze anos, desejando algo que a acompanharia por toda a vida? E se o pai a encontrasse então, segurando um, descartando outro? Uma amiga mais velha e experiente acabou por auxiliá-la na escolha final. Depois de horas... pimba! Ela o escolheu.

Em casa, ninguém notou que a púbere da família já havia feito sua opção. Ela tinha medo que descobrissem que não era mais tão menininha quanto pensavam que fosse. No jantar quis apresentá-lo, mas com medo, recuou. Apenas o apalpou discretamente, querendo, na verdade, que descobrissem sua transgressão. Contudo, ninguém desconfiou de nada. Ao se deitar, sentiu que não mais dormiria sozinha. Dormir com ele seria estranho. Será que os adultos dormiam longe dele? Sua mãe dormiria com, ou sem ele? Se alguém dormia com ele ou não, para ela, não importava. Era tão gostoso, macio, que adormeceu com as duas mãos sobre ele.

Com o tempo, já sem medo que sua escolha fosse revelada, passou a circular livremente com o escolhido. Como seu peito passou a se encher de orgulho por ele! Ninguém notava que junto dela, ele se fazia presente...

Na adolescência outros mais moderninhos se apresentaram, mas ela, sempre fiel não o trocava por nenhum outro, mesmo sendo os atuais mais sensuais, atraentes... Não seria justo trocar o clássico pelo moderno, o novo pelo velho. Aquele básico, o básico de sempre, dava a ela mais segurança.

Os anos passando, namoros passados, e ele lá, firme e forte. Ela às vezes até o esquecia num canto quando o namoro esquentava, mas logo que a loucura acabava, entregava-se novamente ao seu encanto, ao seu aconchego, e á noite, como fazia desde os doze anos, dormia com as mãos sobre seu companheiro, mesmo sabendo que no outro dia, se contasse que dormira com ele, as amigas zombariam dela. Na hora de dormir, todas o descartavam.

Mas, eis que um dia, aquela harmonia toda teria que acabar. Aos vinte e cinco ela se apaixonou por um jovem de vinte e dois. Durante o namoro o amado não se importava com a presença do outro. Vez ou outra, quando o amor pegava fogo, o jovem namorado até chegava a atirar o outro no chão, ouvindo depois os resmungos por parte dela. No entanto, depois do casamento, o marido fez sua exigência: ela teria que dormir só com ele, sem a presença daquele estranho. Ninguém dormiria com aquilo, ainda mais com as duas mãos sobre ele. Todas as mulheres dos seus amigos, suas mães, as mães das mães, todas as mulheres o descartavam durante a noite, e sua mulher também teria que desprezá-lo ao ir pra cama. No começo ela relutou, mas o marido insistiu, bateu o pé. Ou ele, ou o outro naquele leito. Depois de alguns dias ela aceita, e naquela mesma noite vai para a cama despida da companhia do seu inseparável acompanhante. Com as duas mãos sobre os seios nus ela tenta dormir, enquanto seu amigo do peito sutiã repousa pendurado num cabide empoeirado...

 
 
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