LÍNGUA PORTUGUESA
Rosi Luna
 
 

A língua fala, a língua lambe, a língua portuguesa. A expressão é mais que uma forma do rosto, muito mais que um aposto, uma forma de letra, mais que uma impressão preta. Uma máquina de Gutemberg, uma forma de comunicação para quebrar icerberg. Funcionou a partir de pedaços chumbo fundido com letras em relevo, nem me atrevo a imaginar como seria um mundo sem livros.

A língua é feminina e de minissaia desfila na linha, rebola, rebolando, hipérbole, hiperbolando. Essa forma circular que exprime, que as vezes reprime um elogio, que faz um olhar de amor parecer um desafio. Um exagero de verbos, uma verborragia, um sangue, uma hemorragia, um sentimento, um vasto conhecimento.

A língua é viva, é um pulsar de palavras bombeando frases cheias de inspiração.A língua é uma mulher que ama um parágrafo e faz uma declaração que começa com um travessão e termina numa interrogação.

- Sou apaixonada por tuas palavras, por tuas travas, por tuas mãos, por teu olhar em vão.

E por mais que coloques vírgulas, para nos separar me pergunto por que não me queres amar em conjunção?A língua portuguesa usa um xale português florido com franja, quem sabe tudo se arranja, uma interjeição, não faço objeção.
Apenas leia e pontue minha frase, me diga em que dicionário acho o embrionário - o nascedouro de palavras cheias de fascinação para chamar sua atenção.

A língua inventa linguajar, é um mar, um amar, um jeito de se expressar, um limiar de texturas para expor figuras de linguagem. Não me venha com pleonasmos que tenho espamos, quero predicado direto. Me diga o que quero ouvir, guarde os adjetivos e me ache o sujeito da frase. Pode até usar crase mas me deixe tocá-lo, me deixe amá-lo. Amá-lo-ei no futuro do indicativo. Farei um verso no vocativo para impressioná-lo. E quando criar coragem e chegar perto dele com cheiro de rosa, consiga prendê-lo dentro da minha prosa.

 
 
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