O FASCÍNIO DAQUELES "OLHOS FINDOS"
Thaïs Martins
 
 

As alucinações voltaram. No tumulto de sua mente, meio a uma constelação de porcas, parafusos, joaninhas, estrelas e girassóis, ele reencontrou aqueles olhos verdes cor de água.

Desde que Tarsila partiu, ele enlouqueceu. Agacha-se num canto e passa dias conversando com ela. Vaga perdido por outras galáxias, e, em delírio, retorna a uma estranha festa, cheia de crisântemos, cantos e rezas. Abraça os amigos com um sorriso ensandecido, pergunta, _ onde está ela, já se foi? Na sua imaginação vai buscá-la no infinito. Aquece-a com seu calor, derruba flores sobre os cabelos dela, espanta a nuvem escura que lhe fechou os ouvidos, conta-lhe histórias encantadas e canta. _ "...Longe, de mim distante, onde irá, onde irá teu pensamento...".

Imensa fascinação essa que ele, ainda, sente pela antiga menina, que iluminou seu coração de jovem envelhecido, fez nascer suas sementes, dedicou-lhe um livro e plantou o pé de rosas amarelas que florescem embaixo de sua janela.

Em uma centelha de lucidez ele se deu conta de que precisava arrancar a amada morta alma a fora, devolve-la para a eternidade e continuar a viver.

_ Mas como, se é o que me restou de vida? Cansado, acalentou a morte dentro de seu peito. Imaginou-se uma joaninha colorida passeando pelos olhos dela, silenciou seus pensamentos e foi encontrá-la nas estrelas.

 
 
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