TEMA
PROPOSTO |
UM
BRAÇO DE MULHER A senhora estendeu o braço direito, segurando o encosto da poltrona da frente, e então me dei conta de que aquela mulher de cara um pouco magra e dura tinha um belo braço, harmonioso e musculado. Fiquei a olhá-lo devagar, desde o ombro forte e suave até as mãos de dedos longos. E me veio uma saudade extraordinária da terra, da beleza humana, da empolgante e longa tonteira do amor. Eu não queria mais morrer, e a idéia da morte me pareceu tão errada, tão feia, tão absurda, que me sobressaltei. A morte era uma coisa cinzenta, escura, sem a graça, sem a delicadeza e o calor, a força macia de um braço ou de uma coxa, a suave irradiação da pele de um corpo de mulher moça. Mãos,
cabelos, corpo, músculos, seios, extraordinário milagre
de coisas suaves e sensíveis, tépidas, feitas para serem
infinitamente amadas. Toda a fascinação da vida me golpeou,
uma tão profunda delícia e gosto de viver uma tão
ardente e comovida saudade, que retesei os músculos do corpo, estiquei
as pernas, senti um leve ardor nos olhos. Não devia morrer! Aquele
meu torpor de segundos atrás pareceu-me de súbito uma coisa
doentia, viciosa, e ergui a cabeça, olhei em volta, para os outros
passageiros, como se me dispusesse afinal a tomar alguma providência.
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