POÇO DO ESQUECIMENTO
Dam Nascimento
 
 

Estou de olhos vendados ao lado do poço do esquecimento; não sei se procuro respostas ou fujo do mundo. Às vezes olho a água do poço e desemboco no passado; no olhar de quem só diz a verdade. Um passado que já é distante, inundado de sentimentos; talvez fosse mais fácil ver a verdade, dizer a verdade. As magoas que me possuem me cegam, me desenganam.Nem sempre sei se sou mais amor ou ódio. Quero que esta água purifique meu coração e que eu possa soltar a voz. Preciso esquecer que existe uma lágrima, quase ácida em meu semblante. Necessito da possibilidade de começar de novo como uma semente fértil em solo úmido. Busco a paz como o último fôlego de uma vida. Minhas mãos estão nas bordas do poço, tremo só em pensar em recomeçar e acelerado sinto uma pulsação que mexe com todos os meus sentidos. Coloco os pés e um filme rouba meus pensamentos em segundos; projeto o corpo e atordoado vou desfalecendo aos poucos ; sei que também perderei lembranças boas, mas, o sacrifício às vezes é necessário para um geral bom. Splash, um corpo na água. Um círculo de ar leva embora seus fantasmas e seus sorrisos e se espalha. Ouço um eco no fundo de minha cabeça ; uma luz toca meu rosto, me vejo em um poço, já é manhã, como vim parar aqui? Não importa, estou pronto para recomeçar.

 
 
fale com o autor