MEMÓRIA FRACA
Doca Ramos Mello
Vou explicar direitinho, p'ra ver se tu me entende, eu tenho p'ra mim que tua cabeça é meio fraca, tu é leso da memória, a Genoveva fez bem em não perder o tempo dela, esperta ela, que deixou tu a ver navio e foi viver em Governador Valadares com o Josildo e agora, ó, mora em Noviorqui... Bom, mas vamos ao que interessa.

São as eleições, ô bocó. Como V. Exa. Metalurgíssima tá na frente de virada, esse tal caseiro começou a falar aí essas besteiras do ministro só p'ra embolar o meio de campo, mas é tudo mentira. O ministro nunca que foi naquela casa, que calúnia, ele não disse que não sabe dirigir em Brasília? Pois falou. E eu dou razão a ele, Brasília é o cão no trânsito, vai lá tu com essa tua ximbica desgovernada e eu quero só ver se consegue achar uma casa por lá, aquilo é um mundão, tem aquele negócio de asa sem ser avião que voa, não é mole, meu chapa, umas ruas esquisitas, tu sabe, aquilo é coisa de arquiteto e arquiteto tem tudo na cabeça, menos a realidade... Além disso, esse negócio de piranhas, francamente, um ministro merece e pode ter peixe mais refinado, vamos e venhamos, só tu mesmo, um bocó, para acreditar nessa bobagem, coisa de jornal, eu detesto a imprensa.

Tu não lembra, ô memória ruim, mas não faz muito tempo apareceu aquele deputado gordo que emagreceu, com uma boca larguíssima, falou, acusou, fez o diabo. E daí? Daí que ninguém provou nada, só serviu mesmo p'ra fazer Dona Renilda chorar, pobrezinha, o Zé sair mais cedo porque tinha livro p'ra escrever, Delúbio ficar apalermado e exibindo os dentes separados, Silvinho perder o carro importado pago com muito sacrifício, e por aí vai... E a chefia ainda subiu na pesquisa porque foi traído! TRA-Í-DO, ouviu bem? Por acaso tu tá lembrado das histórias da Bíblia que Dona Emengarda contava p'ra nóis, na escola? A gente era pequeno, tu até chorava por causa da traição, tu pode ter esquecido, mas eu, não, tu chorava p'ra burro!

Eu tô falando de Judas, ô bocó, aquele que deu o beijo e nem esperou o galo cantar, lembra? Pois V. Exa. Metalurgíssima tá rodeado desse tipo aí, é uma tropa de Judas que ele vive estapeando, mas traidor é traidor, tu sabe, a gente abate um aqui e ele brota ali ou manda outro no lugar, meu caro. É tudo para não deixar V. Exa. Metalurgíssima se reeleger, preconceito contra o trabalhador, o homem humilde que subiu na vida sem precisar fazer nenhuma porcaria de faculdade, essa é a questão. Eles não dizem abertamente, mas tá todo mundo meio envergonhado porque o cabra fala que nem nóis, toma umas cachacinhas como a gente, tem aquele jeitão popular, feioso. Tu lembra do Collor? Pois impicharam o cabra porque era mole de impichar, bonitão, rico, roupa importada, viajado, metido a falar inglês - foi p'ro saco fácil, cara.

Agora, quem se atreve a fazer isso com V. Exa. Metalurgíssima, quem, quem?! O problema é a Dona Zelite - tu já sabe que a Dona Zelite quer ver a nossa derrota, todo dia o presidente fala isso, ela quer botar no avião só uma cambada de doutor, ela acha que nóis não sabe andar de avião, que nóis não merece, sabia? Mas tu, francamente... Tu não guarda na cachola tudo o que nóis passou antes de V. Exa. Metalurgíssima chegar lá, tu esquece o que nóis tivemos de agüentar, a Dona Zelite falando enrolado p'ra nóis não entender, nóis na enxada e a Zelite deitando e rolando, é, mas agora que quem rola é nóis, ela tá é muito p....

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