EM SEGURANÇA
Lisandra Gomes Coelho
 
 

Chegou em casa correndo naquele domingo: eram 9 horas da noite ainda, mas não gostava de andar por aquelas ruas dali de seu bairro sozinha e após as 6, por isso, vinha, esbaforida, língua de fora, andando apressadinha, e tão logo fechou a porta por trás de si, passou logo a chave, três ferrolhos e duas trincas.

Relaxou sobre o sofá... ahhhhh... sensação boa... janelas fechadas, grades trespassadas, estava de volta, em casa, trancafiada.

Tinha saído com um cara bacana. Bacana, só, nada de mais. Mas sentia que a conversa entre eles não estava fluindo bem, o clima não estava propício, ele parecia meio na defensiva,
ela também, então, antes que ele saísse, dizendo que tinha que ir embora mas que ligaria qualquer outro dia - que ela sabia que não chegaria, tomou ela a atitude de partir, deixando-o só sobre a mesa, ele e a caipirinha. Assim também, além de chegar em casa logo e cedo, se privava de levar um possível fora enviesado.

Confiante, segura e tranqüila, se deixou largar sobre o sofá... jogou os sapatos para um lado, os braços para o outro... e ligou a tevê, para assistir ao depoimento do sujeito que, como ela, só sobreviveu porque está por trás de grades.