QUINTAS AGRIDOCES
Leila Silva Terlinchamp
 
 

Hoje é quinta, dia de dar. Só escapo deste dever quando tenho as regras. Maurício, na sua tremenda safadeza, às vezes fica tentando até nas quintas vermelhas, vermelho mesmo, bem marcado no calendário. Taradice! Tem mês que já está no finalzinho e sou obrigada a dormir com um daqueles absorventes enormes, quase um travesseiro, pra ele entender. A Lúcia disse que eu devia ser mais flexível senão ele vai acabar procurando por fora. Mais flexível? Já ouvi falar de casais que passam seis meses ou mais sem relações, eu concedo uma vez por semana. De qualquer modo eu digo uma coisa se ele aprontar, que apronte bem, faça bem escondidinho e não me deixe em situação embaraçosa, do contrário vai se arrepender, peço o divórcio na primeira bobeira dele e fico com a guarda do Paulinho. Maurício sabe com quem está se metendo, é idiota mas nem tanto. Antes de ficar grávida os nossos dias de intimidade eram as quintas e sábados, estivesse em período fértil eu flexibilizava. No dia em que peguei o exame mostrando ‘positivo’ não deixei mais o Maurício botar a mão em mim, tive uma gravidez complicada, não estava para isso. Meu pós-parto também foi complicado, pensei até que estivesse com aquelas depressões, me enchia rapidinho, sobretudo do Maurício, de modo que foi difícil recomeçar, mas cá estou, esposíssima, quase pronta para esta quinta.