REGISTROS DE DISTÂNCIAS/PROXIMIDADES ALÉM DA BARREIRA DAS LÍNGUAS
Thaïs Martins
 
 

O evento

Segmento: Sobre o supérfluo, com Arkadii Dragomoschenko. – Rússia.

Encontro Internacional de Poesia em Tempo de Guerra e Banalidade.

Fragmentos da fala do poeta traduzida por uma bela intérprete

- Sou poeta nas horas de festa.... Ócio é igual à festa, que é igual à poesia.-

- Poesia são os olhos de uma outra pessoa, através do quais olhamos para nós mesmos... Têm sempre uma figura de linguagem, um não dizer, mas dizer, não para si mesmos, mas para frente... Coordenando as imagens numa outra linguagem... lá onde eu me esqueço... . São tecidos sonoros// membranas em chamas// olhos furtivos... . -

- Estou mareado, com jet leg, cansado... Fiz para vocês alguns versos que falam disto... . -

- Vou ao banheiro. -

Fragmentos da fala do Coordenador-tradutor e os poemas que leu

-Estou aqui para ler poemas deste brilhante autor soviético. -

- Não aceito que outros discursos tomem o espaço da poesia. -

- Leremos em...

mmmPortuguês,

mmmmmmmmmRusso, para que ouçamos sua música,

mmmmmmmmmmmmmmmInglês-português, simultaneamente,

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmRusso e português, simultaneamente.

-... Além da barreira das línguas... Além da barreira das línguas... Além da barreira das línguas. – (Interrompendo diversas vezes a fala de um participante). -

-O poeta está cansado. –

Fragmentos dos poemas

-... O sonho sonha...
O vinho não tem direito nem esquerdo...
Como no corpo de qualquer um vive uma criança.... -

-... Quebra a casca de gelo da consciência......
reordenando a escrita...
Cabeças atiradas ao avesso... .-

-... O vento esculpiu em cada lado de um círculo...
As separações de significado e sentido... .-

-... Confluência lasciva
A metáfora é só objeto
O desejo de ser adia
A perspectiva do objeto... .-

-... Na filosofia hinduísta
O mundo é o manto de... .-

-... o ato de inalar
O ato de exalar
No meio do tempo,
Felicidade, começo.... -

Público do evento

Uma centena, no princípio, diminuindo a cada happenig. Primeiro, logo de início, do total diminuem-se os curiosos; a seguir subtraem-se alguns poetas, depois dos poemas declamados em russo; outros a menos, depois dos poemas declamados, simultaneamente, em inglês e português. Uma longa expiração e, finalmente, com timbre sagrado, a leitura, simultânea, dos poemas, em russo e português. Só a escutaram os iluminados e os candidatos a poeta.

Manifestações apresentadas/ocultas pela platéia a propósito do evento

- O que mesmo que ele disse? Que os poetas deveriam morrer antes que eles possam fazer poesia?-

- Onde podemos conseguir os livros do poeta? Questão sem resposta...

- Eu me casei com russo, era apaixonada pela história da Rússia, morei lá, aprendi um pouco a língua, o casamento não deu certo, mas valeu a experiência. -

- Nonsense. – Caos. -

- Gostei do som dos poemas em russo. -

- Interessante evento pós-moderno, não houve espaço para ninguém se esconder atrás dos textos. Nenhum segredo! –

- Experimento onde afloraram sentimentos impensados, realidades insuspeitas, distâncias/proximidades além da barreira das línguas. Fez-se a compreensão da oposição verso/reverso. Refletem movimento de expansão/ recolhimento do universo, entre eles um espaço gramatical, uma pausa entre a inspiração e a expiração. –

- Driscription, um livro do poeta faz sucesso nos Estados Unidos. _

Alguns comentários tiveram seus conteúdos extraviados nas “separações de sentido”.

-... Hummm... Poetas e mecenas assoviam e chupam cana ao mesmo tempo... .-