ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Gaby Marques

Ela ardia em febre. A saudades era tanta que não sentia mais nada. Só chamava por seu nome. Estava tão fraca que o sussurro se desvanecia. A coitadinha estava morrendo. Morrendo de amor.

Onde encontra-lo? Como encontra-lo? Já haviam colocado anúncios no jornal sobre o seu desaparecimento. Algumas pessoas até ligaram no início, achando que o haviam encontrado, mas foi em vão. Era apenas parecido.

E o tempo foi passando e a saudades aumentando. Ela parou de comer. Já não pensava mais racionalmente. Parou de beber. Dormia o tempo todo como se quisesse esquecer o que estava acontecendo. Refugiava-se em seus sonhos. Sua mãe já não sabia o que fazer. Ninguém sabia mais o que fazer para anima-la.

Então, numa bela manhã de domingo conseguiram convence-la, depois de muita insistência, a dar uma volta pelo zoológico. Logo na entrada viu aquela figura suja, magricela e triste. Olhou de novo e viu aquele brilho no olhar que era tão familiar. Não conseguia acreditar. Chamou pelo nome e ele abanou o rabo. Ela havia encontrado o Rex. A febre passou, uma fome voraz a consumiu e o animo lhe devolveu toda à vontade de viver. E o coitadinho do Rex foi recebido tão bem com um maravilhoso banquete que não sabia por onde começar. Só do banho que ele não gostou muito.

Enfim, a paz estava de volta naquele lar - pelo menos até a próxima fugida do cãozinho.

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