SOBRE
ANJOS, MARGARIDAS, ESTRELAS, GIRASSÓIS E MELANCIAS
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Luísa
Athaíde
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Pouco
se sabe sobre a vida secreta das plantas, o que sentem, o que pensam,
como gastam seus melhores momentos. O certo é que naquele dia
as margaridas estavam inquietas, movidas pelo mais feminino dos sentimentos:
A curiosidade. Muitas cartas recebeu a chuva; que viesse dia sim e dia não, mas que chegasse com delicadeza, assim sem muito barulho. Outras tantas recebeu o sol, pedindo que quando fosse por lá, passasse antes na casa da brisa, filha mais nova do vento. À noite as estrelas guardiavam os canteiros, torcendo por cada caule fininho que se estendia na terra: _ Hum... visto assim de longe, nós estávamos certas, os caules se espalham cada vez mais pelo chão... por certo teremos frutos. Não se cansaram da vigília as margaridas: _ Ora, visto assim de perto, tínhamos mesmo razão... os caules se erguem do chão... por certo teremos flores. Como o tempo tira todas as dúvidas, fez dos canteiros entrecortados, um pomar de girassóis num jardim de melancias. E porque margaridas e estrelas diminuindo distâncias acolheram flores e frutos, contam os antigos que ali nasciam flores de sabor adocicado, e no Outono o melhor mapa para encontrar o Jardim das Melancias era colocar o nariz ao vento. A terra quando expele a semente traz à luz a vontade do semeador porque também assim são os homens; sementes diferentes com histórias diferentes. Se um ponto dessa história de vida seja nos encontrarmos aqui, os que aqui te encontram te acolhem. Bem-vindos sejamos todos. |