NO CHÃO FRIO
Osvaldo Pastorelli
 
 

Dois corpos no chão frio do banheiro rolam abraçados no desejo de serem um só quando, um sorri entre o frio dos dentes e diz:

- Nossa! Como está gelado esse ladrilho...

Nisso um dos corpos se vira. Estende a mão e interrompe a campainha do telefone.

- Era engano, disse numa voz arrastada pela emoção de estar ali com quem desejava.

Ele então voltou para a posição inicial.

E, a partir desse momento, reviu todas as ações da sua vida como se fosse um traje completo encobrindo os pormenores que não queria esquecer.

Sentia-se meio ridículo nu e de meias pretas sendo abraçado, mas não se importou, pois o que valia era fazer o que desejava fazer sem guardar qualquer remorso ou algum preconceito maldoso.

Assim ficou no aconchego frio do ladrilho aquecendo-se no corpo que o abraçava.

E dormiram toda a eternidade que um prazer poderia proporcionar aos dois corpos no chão frio do banheiro abraçados no desejo de serem só um.