OLHOS AZUIS DE THATI, TÃO AMADA...
Cármen Rocha
 
 

Ela chegou de repente, e com seu poder misterioso, conseguiu mudar o destino da casa, e talvez o meu. O que chamava a atenção, de imediato, eram seus olhos. Indecifráveis e grandes como os da esfinge, ou vivos e belos, eu diria, com o poder de tudo obter, pois seu magnetismo era grande. Ela se fazia enigmática em sua postura sinuosa. E sua malícia corria na frente de cada ato seu.

Quando minha mão máscula a procurava, ela provocante, ora se deixava acariciar e seus olhos demonstravam todo o seu prazer, ora apenas desaparecia como se fosse assombração, e minha mão pendida, pedia seus carinhos.
Um dia, de quase posse, num ato desatinado, derrubou o licoreiro de prata e cristal, que fora de minha tão querida avó. Enfureci-me a tal ponto que desejei apertar aquele corpo frágil, mas seus olhos açucarados e inocentes tiveram tal poder sobre mim, que esqueci-me prontamente do desastre e a acariciei docemente. Daí ela pôde avaliar o seu poder sobre mim e como que sorriu. O tempo passou e não consegui decifrá-la, sequer domá-la. Ela era enigmática como todas as outras.

Eu a procurava sempre, ela tinha o poder da atração, eu explico, pedia beijos, mimos, agrados doces e selvagens. Eu estava disposto a proporcionar-lhe tudo o que me viesse a cabeça, pois isso era prazeroso, relaxante mesmo. Ela era linda, e doce, e encantadora, e selvagem...

No entanto escapava-me, pois o seu instinto de liberdade superava todos os seus outros e ela desviava-se de mim como só os felinos o fazem, delicadamente mas com tal rapidez que sempre me tomava de surpresa. O agrado ficava no ar.
Não sei como, e por quanto tempo poderia agüentar. A solidão já fazia parte do meu destino.

Um dia, inesquecível para mim, desditoso, triste, mas libertador, de certa forma, num descuido de minha parte, ela escapou. Achou sua liberdade que procurava num anseio nunca visto. Nunca pude me perdoar por tal acontecimento. A dor permaneceu comigo, talvez permaneça até hoje... Onde estaria a dona daqueles olhos azuis tão doces, tão queridos, tão matreiros...

 
 
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