DA ARTE DE LAPIDAR A VIDA
Pedro Brasil Junior
 
 

No passado, minhas passadas deixaram profundas marcas pelas terras onde explorei todas as riquezas.

Eu, autêntico caçador !

Me perdi, se bem recordo, pelas savanas da vida na incansável busca de minha presa.

Arranhões leves e profundos sulcaram minha carne e a dor, muitas vezes, me obrigou a dar um tempo.

Tive batalhas mortais com inimigos que eu nem conhecia.

A selva é assim mesmo!...

Mas minhas defesas estiveram sempre em dia e minhas garras afiadas espantaram o oponentes.

Encontrei o que achava ser um valioso diamante! E o lapidei por anos a fio, tentando ofertar o brilho maior da minha possível conquista.

Era pedra tão rude que acabei desgastando minhas garras e depois disso, fiquei vulnerável.

Me recolhi numa toca até que um dia, pudesse estar devidamente recuperado e lá fui eu em busca de outra pedra.

Atravessei densas florestas, corredeiras poderosas e encarei de frente todos os desafios inimagináveis, até que um dia, deparei com minha pedra brilhante.

E mais uma vez, gastei as garras tentando extrair o brilho daquilo que julgava ser a luz que iria me guiar para as aventuras mais complexas da minha existência.

Consegui extrair um tanto do cintilar da pedra, mas não fora o suficiente para suprir minhas vontades e meus desejos.

Decidi esquecer as pedras, as riquezas e me fixei apenas no caminho!

As feras do mundo todo estavam me esperando em muitas emboscadas. Mas eu, agora um poderoso guerreiro, não me deixei abater em nenhuma situação. Havia um objetivo e tinha que alcançá-lo a qualquer preço.

Segui adiante e os dias passaram a ser tranqüilos e a exigir de mim cada vez menos esforços. A razão e o coração agora estavam em pleno acordo e eu, animal tão ferido, sabia agora todos os segredos para enfrentar as aventuras da existência.

Não sei ao certo onde deixei a paixão e o amor. Mas sei que ambos caminham numa dessas surpreendentes paralelas da vida. Um dia desses, feridas cicatrizadas, haveremos de nos encontrar.

A paixão ainda mais fulminante, o amor ainda mais profundo e o animal, definitivamente preparado para lapidar a pedra mais brilhante e iluminar assim, os misteriosos caminhos da alma.