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      A 
        paixão é voraz, o silêncio 
        alimenta-se 
        fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te 
        toda 
        no cometa que te envolve as ancas como um beijo. 
        Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem 
        nos quartos. 
        É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a 
        entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel 
        relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta 
        pelo meio 
        o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras 
        um pouco loucas 
        engolfadas, entre as mãos sumptuosas. 
        A doçura mata. 
        A luz salta às golfadas. 
        A terra é alta. 
        Tu és o nó de sangue que me sufoca. 
        Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões 
        da madeira fria. És uma faca cravada na minha 
        vida secreta. E como estrelas 
        duplas 
        consanguíneas, luzimos de um para o outro 
        nas trevas. 
         
         
      (trecho 
        de Da Paixão - Photomaton & Vox- 1995) 
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