CAÇADOR EXPERIENTE
Beto Muniz
 
 

31 DE OUTUBRO É O DIA DO SACI
- Prestigiando o folclore brasileiro:
http://www.sosaci.org

Ao contrário do que muita gente pensa, é fácil, legal e recomendável criar Saci em casa. O que poucos sabem, e por isso acabam adquirindo garrafas vazias pensando que tem Saci dentro, é que é impossível comercializar Sacis. Vendeu, emprestou, deu, cedeu, puffft, o Saci evapora e volta a ser livre! A posse não é hereditária e além do caçador apenas as mulheres da família podem cuidar. No mais, quem quiser criá-los deverá caçá-los.

Uma boa caçada de Saci deve ser programada para começar nas tardes de sexta-feira. Não tem nada a ver com data cabalística, apenas que a caçada de Saci é uma tarefa extenuante e sábado é o melhor dia cristão para a prática do descanso. Quase impossível caçar mais de um Saci por vez. Assim, apesar de vários caçadores reunidos numa mesma empreitada, apenas um deles terá sucesso. Eleito o dia, o resto fica muito fácil, porque os Sacis contemporâneos são loucos por uma caçada de Saci... funciona mais ou menos como uma RAVE para eles e a festa termina quando um é capturado. Explico mais adiante por que.

Como já é sabido as namoradas, noivas e esposas não dão sorte na caçada, então para garantir o sucesso da expedição é melhor levar amigos e amigas; muita Skol para evitar desidratação (Itaipava tb serve); música para alegrar a caçada e montar a armadilha; peneira para captura; garrafa para transporte do danado e camisinha. Camisinha, preservativos, o popular Jontex! Pode parecer estranho para quem não sabe das coisas envolvendo Saci, mas não é. O látex é excelente substituto da rolha. É preciso vedar a boca da garrafa para evitar a fuga do Saci! O Saci se reproduz escapando de garrafas. Escapou um, Plin! Tem dois! No oco da Taquara-Açu, lá no meio da mata, como por mágica, PLIN! Um ovo de Saci começa a se desenvolver. Peraltices em dobro. E os danadinhos já nascem graúdos, com sete anos, tipo Macunaíma, e sabendo aprontar uma boa com quem o mantinha preso. Todo cuidado é pouco, o danado vive setenta anos, tempo de sobra para se vingar. Nos tempos idos, eles se reproduziam escapando de cabaças, um tipo de recipiente vegetal muito utilizado pelos indígenas. Em algumas aldeias cuidar das cabaças com Sacis era tarefa das virgens. Vem daí o temor popular: "Moça com muita graça de pronto perde a cabaça!".

Bom, voltando ao tema, é bom ficar atento, no entanto não precisa temer o Saci. Ele é uma entidade fantástica que se assemelha a um menino brincalhão, não agride, nem gosta de tirar sangue, faz suas travessuras e se vai, rindo dentro do redemoinho, caçoando suas vítimas. Na programação da caçada convém observar então que o Saci adora uma farra, mas como qualquer garoto é criatura diurna - os leigos desconhecem esse detalhe, então o ideal é começar a caçada antes de escurecer.

A estratégia é uma baba: as amigas do caçador entram no mato se hidratando com a cerveja, cantando e dançando, cada qual com um preservativo escondido no bolso ou local de fácil acesso. Tomam o rumo dos bambuzais, que é onde eles ficam de bobeira. Os caçadores esperam alguns minutos e seguem o rastro das mulheres. Podem ir sem receio de espantar o Saci, esse ser pré-adolescente tem memória de peixe, esquece tudo que não é travessura em poucos dias e talvez nem saiba que as dançarinas são armadilha de caçador mesmo sendo um Saci alongado (Saci fujão de alguma garrafa), e se desconfiar que é caçada, não saberá de sua estratégia e estará distraído com a música, com o rebolado das moças, seguindo o que pensa ser uma farra, já tirando o gorro, entrando no clima da festa e tal... Com o safado desprevenido será fácil jogar a peneira, agarrá-lo com uma das mãos - a garrafa deve estar pronta na outra, e empurrar o danado pra dentro... é quando a amiga deve colaborar e colocar a camisinha. Não tem mistério! Fazendo bem feito o bicho estará lá dentro... Então é só criar. Sem esquecer que na hora, se romper o preservativo, o pestinha escapa e um vira dois.

Se ainda não disse, explico agora porque a captura de um acaba com a farra da sacizada. Saci tem pavor de peneiras! Eles se comunicam por uma espécie de telepatia, todos saberão do perigo e acabou a festa. Redemoinhos cessarão. Silêncio na mata durante alguns dias. Depois passa, a sacizada esquece e bastam algumas garotas bebendo Skol (marketing gratuito), cantando, dançando que eles vão atrás, cachimbo na mão, pensando que é farra.

desenho de José Luiz Ohi