EU TENHO MEDO
Patrícia da Fonseca
 
 
Eu tenho medo.

E se eu não tivesse tanto medo, até onde eu já teria chegado? Então me lembro das coisas que deveria ter feito e não fiz, porque minhas pernas tremeram na hora errada ou porque as minhas mãos ficaram úmidas de suor e eu tive que esfregá-las nas minhas calças jeans para secar. Lembro das vezes que ensaiei minhas falas na frente do espelho, dentro do ônibus ou trancada dentro do meu quarto. E quando chegou o momento de eu expor tudo o que eu sentia, minha língua travou, minha voz falhou e eu tirei meu time de campo por causa do meu medo.

Eu tenho medo. Não de tudo e nem de todos. Só de ti. Das tuas reações, do teu olhar que as vezes me ama e que outras tantas não me enxerga. Tenho medo da tua boca que parece querer me beijar e ao mesmo tempo me afasta para tão longe que eu não consigo voltar. E por isto eu ensaio falas, tom de voz, olhares, trejeitos. Porque um dia talvez eu possa superar o medo que tu me dá e jogar na tua cara todo o desejo que me consome.

E eu continuo com medo. E olho para trás buscando respostas e percebendo que há tanto tempo eu venho assim e me pergunto: Por que insisto? Será que tu vale tanto a pena? E independente do meu medo, eu venho tentando, imaginando mil coisas quando acordo e indo dormir com o coração em frangalhos. Se fosse outra pessoa, eu já teria desistido. Só que agora eu não quero. Eu sei o que eu quero.

Apesar dos meus passos cambaleantes, eu venho te seguindo com meus olhos famintos, todo mundo percebe, tu percebe, tô nem aí. Ninguém imagina o medo que me devasta, a vontade que eu tenho de te prensar numa parede e dizer tudo. Tudo.

Você vem, você vai. Passa por perto de mim, com seus olhos de gato. Do outro lado da sala, você pisca para mim. Então digo para mim mesma: a parada está ganha. E eu estufo o peito, meu coração bate mais forte, as palavras vem em tsunami na ponta da minha língua. Mas depois… aí tu disfarça, conversa com um, conversa com outro… quando eu vejo, tu já foi embora e eu fiquei. Sozinha, olhando para o nada. Absurdamente para o nada.

Meu amor, quem tem medo é tu.
 
 
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