OS PARANORMAIS: A MENINA DE GELO
Bruno Pinheiro de Lacerda
 
 

Aquelas pessoas comuns, ditas normais, podem tudo: podem sorrir, chorar, irritar-se, magoar, alegrar-se, perdoar... Aqueles, porém, que possuem alguma anomalia, não têm esse mesmo direito. Um Deficiente Visual não pode ser, em hipótese nenhuma, desinteressado, nem pode se irritar por um minuto sequer. Um herói não pode se exaltar, tem que tratar sempre bem a todos. E por quê? Ora, a raiva, a ira, a cólera, tal como a alegria, o sorriso, o perdão e a esperança são sentimentos inerentes a todos, incluindo aqueles chamados de: OS PARANORMAIS!

As notícias sobre o torneio se difundiam. A vitória emocionante de Caio na luta de abertura era divulgada com entusiasmo pela mídia. Caio havia vencido de virada e com um ou dois golpes só: isso era incrível! Agora seria a vez de Daniela: ela teria de lutar. E o torneio fazia sucesso; novamente, reuniu-se uma grande multidão, para ver aluta entre Daniela e Gabriel. Caio estava muito interessado na luta, já que Daniela era sua maior rival. Quem venceria? Como seria a atuação de Daniela? Quem era aquela garota?

Caio estava na platéia. Aliás, ele estava na Tribuna de Honra _ todos os participantes do torneio podiam assistir à todas as lutas dali. Ele queria acompanhar a luta. Dessa vez (e isso não será assim sempre), poupar-lhes-ei, leitores, da figura do narrador. Sendo assim, dessa vez, narrarei sozinho. Caio acompanhava tudo com Leandro. Amanda, melhor amiga de Daniela, também acompanhava tudo, todavia um pouco distante de Caio e Leandro. Na arena, a luta começou.

Gabriel disse:

_ Vou acabar com você: não vou perder para uma ceguinha!

_ Tem certeza? _ Daniela continuou a provocação: _ Para um nome de anjo como o que você tem, suas palavras não são nem um pouco condizentes! Bem... Não importa: acho que você vai engolir seu próprio veneno...

_ Ah, vamos ver!

_ Vamos lá, “anjo” Gabriel! Pois venha!

Gabriel lançou um ataque incrível! Entretanto, Daniela desviou-se. Ele lançou novo ataque, sem sucesso novamente. Ele insistiu, contudo não deu certo. Como podia aquilo? Ah, Daniela era muito veloz!

Caio _ o qual acompanhava tudo _ surpreendeu-se, não com a velocidade de sua rival, mas com a revelação que ele ouvira. Daniela... Não enxergava? Então... Leandro percebeu a inquietação do amigo e questionou:

_ O que está havendo, amigo?

_ Ah... Eu não sabia que ela também... Que ela também era cega _ respondeu Caio.

_ E isso o que tem?

_ Nada... É só que não parecia: ela é arrogante demais...

_ E os Deficientes Visuais não têm o direito de ser arrogantes?

_ Têm, mas não devem. Aliás, ninguém deve... Mas... Um cego... É pior, porque depende de que pessoas que enxergam olhem algumas coisas... Você me entende?

_ É... Acho que sim. Mas... Mudando de assunto... Essa garota é bem rápida, hem?

_ Isso não me surpreendeu agora: eu já tinha visto isso antes.

_ O quê? Vocês chegaram às vias de fato?

_ Sim. E só não terminamos por causa do maldito do Zenildo!

_ É...

A luta continuava. Gabriel tentava inutilmente acertar Daniela. Após um tempo, Gabriel deu uma pausa. Daniela disse:

_ Já se cansou, “anjo” Gabriel? Pensei que você lutasse melhor! Ah, já sei! Você não está conseguindo me atingir, não é? E isso não tem graça, não é? Pois bem: pode mandar seu ataque, que eu não moverei um dedo.

_ O quê? _ Gabriel perguntou espantado.

_ É isso mesmo! Mande seu ataque e você me atingirá: não moverei um dedo, não usarei minha velocidade, não fugirei de seu ataque! Encararei de frente! Vamos!

_ Tudo bem... Já que você quer aparecer... Então... Toma!

Gabriel lançou seu ataque e atingiu em cheio Daniela; contudo, a energia vital dela permaneceu inalterada. Como? Gabriel espantou-se, tal como Leandro. Gabriel disse:

_ Como isso é possível? Eu a atingi com todas as minhas forças! Não pode ser!

_ Essa é toda a sua força? _ Daniela provocou. _ Então... Como conseguiu seu cristal? Ah, já sei: você o comprou, não foi?

_ Maldita! _ Gabriel irritou-se. _ Maldita! Agora eu vou acabar com você!

_ É mesmo? Então, venha e cumpra sua promessa, farsante!

Leandro comentou com Caio:

_ Será que eu ouvi direito? Esse cara atingiu essa garota em cheio e ela não perdeu energia vital? Como?

_ É isso aí, amigo! É isso mesmo! Ela tem esse dom.

_ Nossa!!!

Gabriel juntou toda a sua energia e mais um pouco. Ele se concentrou e fez um esforço descomunal, juntou uma quantidade de energia que não seria, comumente, capaz de agüentar. Em seguida, tomou impulso, foi para trás, para frente a toda a velocidade e, bem perto de Daniela, lançou aquela quantidade enorme de energia na menina! O ataque a atingiu em cheio e, novamente, sua energia vital não se alterou. Ah, Gabriel não podia acreditar... Como aquilo era possível? Não! Não podia ser! Ele bradou:

_ Como... Como... Como isso pode ser? Como?

Daniela, com firmeza, falou:

_ Bem, você me decepcionou: é mesmo um fracote! Bom... Como quer perder?

_ O quê?

_ Como quer perder, anjo do mal? Vou derrotá-lo com um golpe só; e então? Como quer perder? Quer ser congelado, ou prefere ser apedrejado?

_ O quê?

_ Bom... Gosto de ser democrática, mas... Como parece que você está em dúvida, vou escolher eu mesma. Gosto de acabar com meus inimigos usando o gelo, porque ele lhes conserva a expressão de desespero. Então, prepare-se para sentir muito frio, maldito! Ah, é mesmo! Só pra te lembrar: você perdeu para uma cega! Adeus!

_ O quê?

Daniela preparou um ataque e lançou contra Gabriel; ele nada pôde fazer: foi atingido em cheio! A energia vital dele ficou em míseros 1%. Gabriel caiu no chão inconsciente. Daniela venceu o combate. Leandro comentou:

_ Nossa! Essa menina é mesmo um terror! Ela será uma adversária muito boa!

_ Você nem imagina quanto, amigo... _ Caio disse.

Esse torneio está ficando bem interessante. Caso Leandro vença sua luta, lutará contra Caio _ seu melhor amigo. Certamente, será uma luta bem interessante. Quem passar, poderá pegar Daniela, nas semifinais. Daniela já provou ser uma excelente adversária! E aí? Como fica? Quem ganhará esse torneio? E... Caio conseguirá realizar seu sonho? Qual é esse sonho? São tantas perguntas e poucas respostas...

(continua)