A MANDIOCA DE 50 ANOS
Dam Nascimento
 
 

O aniversário que era para ser só mais uma notícia de que a idade se aproxima, virou um furo de reportagem e todos os amigos comentavam pelas esquinas a fora.

Lembro de Reco filosofando sobre a mandioca. Não sei se era uma constatação ou um lamento, afinal, já deve ter sido motivo de muito orgulho tempos atrás. Falava aos amigos que era quente e molinha, salgada , mas naquela altura da vida sem recheio.

Será que ainda dava um caldo? Ele não ousava falar. Entre um gole e outro de cerveja já confessava ter sonhado com o treinador dos Santos nas últimas noites. Sei que era santista, peixe , doente; será que sentia vontade de virar sereia? Seus olhos verdes marejavam certa saudade, contudo, ninguém ousou perguntar de que e nem de quem. A mudança de seu temperamento notava-se por seus hábitos. Sem que ninguém percebesse, tomava caldo de mocotó e uma cerveja nova com gosto de Sprite; Ah! que meigo ! Depois, são paulino que é Bambi, sei!.Não tiraria sarro de um amigo como ele; ele é legal. Todos um dia chegarão à fase do bingo e da saudade e passarão a ser cada dia mais vegetarianos, chorarão com Roberto Carlos, adorarão o inverno e passarão a achar que o seu time do coração é o melhor. Reco e a mandioca de 50 anos, agora é fato, não tem mais jeito. Deve ser um suplicio para tirar a casca, mas, sempre me disseram que o ideal para todos é casar com alguém com quem se goste de conversar.

Ainda não me acostumei com estas mudanças de meu amigo, tenho medo de ir pegar Gelol em sua bolsa de futebol e encontrar um Ponds. Notei também que de uns tempos para cá, passou a gostar mais de doces e virou fã das famosas pastilhas azuis e verdinhas e seu interesse por sementes de melância aumentou muito. Por que será não? Cada louco com sua mania.

Voltando a mandioca, a partir dos 50 anos é aquela fase crítica; o caule é mole, a casca embaça e a raiz já não penetra mais nos buracos da terra molhada. Ô meu amigo, coragem; o tempo é para todos, mas, leite de Aveia Davene só para as mulheres.

Quando se pegar pensativo, lembre deste dito popular: Melhor uma mandioca que aponte para o chão do que um toco cheio de vida e sem possibilidades de sucesso.

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