NEM DE DIREITA, NEM DE ESQUERDA
José Luís Nóbrega
 
 

Ela não era nem da direita, nem da esquerda. Ficava assim, no centro, quando muito, no centro um pouco mais para direita, ou até mesmo no centro mais caidinha para a esquerda.

Não morria de amores pelo povo, mas também não o odiava. Porém, até mesmo muitos proletários a cobiçavam, fazendo seu uso esporádico. O povo a usava por obrigação, ou, muitas vezes, o povo a usava para se parecer mais com um integrante da direita reacionária, e menos com um sonhador socialista mais que ultrapassado.

Mas pode acreditar! Os integrantes da esquerda revolucionária contemporânea, outrora integrantes da esquerda extremista comunista, muito antes da queda do muro de Belim também a portavam com orgulho, ainda que para, no dizer deles, apenas cumprir e não quebrar o protocolo. No entanto, hoje, revolucionários ultrapassados, sanguessugas do poder, todos, sem exceção, passaram a desdenhar dos conservadores de direita que sempre apreciaram seu encanto (o encanto dela, da amada e odiada, e na maioria das vezes do centro), sua força de mando e de poder.

Por ela alguns perderam a cabeça, outros se enforcaram com o auxílio e companhia da própria. Santos Dumont não pensou duas vezes e a convidou para o seu suicídio (o suicídio dele, é claro!). Getúlio raramente fazia seu uso. Militares trocaram seus fardões pela sua beleza discreta. Collor de Mello, como um bom direitista, a conservou com garbo, elegância, trocando-a sempre a cada entrevista. Por ser arrogante, sem se importar com os que a sustentavam no centro, na direita ou na esquerda, por pouco não acabou seus dias com o pescoço enrolado nela. Hoje, ou melhor, no dia 1º de janeiro, o ex-presidente adentrará o Senado, certamente, ostentando a mesma usada quando do último dia do seu breve reinado.

Movimentos tentaram abolir seu uso por completo. Casamentos foram realizados sem a sua presença, mas claro, não tiveram o mesmo brilho das cerimônias conservadoras da direita oligárquica. Mulheres a cobiçaram sem imaginar o que seria usá-la por um dia, apenas um dia sequer num país tropical, quente, pobre e tupiniquim...

Amada por alguns, odiada por muitos, usada por poucos, a nossa gravata de todo dia, ou de alguns dias e algumas cerimônias apenas, isso mesmo, aquele paninho pendurado no pescoço, usado por obrigação do ofício, ou por obrigação ao modismo fugaz, ela, sempre ela, é, e continuará sendo dispensável, falível, detentora de todas as mazelas de uma direita reacionária, e de uma esquerda deslumbrada pelos poderes oriundos de um simples pedaço de pano pendurado no pescoço, ela, sempre ela, será a eterna culpada num país de engravatados de direita e de esquerda, num país... sem culpados...