NOTÍCIAS DE UM SONHO FALIDO
Marco Britto
 
 

De alma abatida e coração apertado trago-te notícias de um sonho acabado. Nada que fosse imprevisível – é necessário dizer - nenhum desastre, nenhuma desdita. Apenas uma ilusão que se foi. Como erva daninha nascida no pasto que cresce e mata o pasto bom por falta de atenção e cuidado, assim morreu este sonho.

Mas se te trago tal notícia é por teimar em sentir a falta que me faz. E é essa falta, que enche minh’alma duma dor fina de fria lâmina de punhal, que atesta o desmantelo de um sonho sonhado.

Morre assim, sem nem mesmo ter-me mostrado ao certo quem você é. Sem nem mesmo ter-me dado a oportunidade de a ter tido...

Mas – ainda me pergunto - quem é esta que me acorda tirando-me o sono, bagunçando meus pensamentos e brincando de faz de conta com meu coração? Saberei antes das lembranças terem se desvanecido?

Mil versos usei. Outros mil me fiz dono, para que fosse escutado. E mais mil inventaria se houvesse a certeza que tal sonho pudesse vir a ser realidade. Por fim – digo-te agora - trocaria todos os versos que fiz, todas as palavras que falei, todo sorriso que sorri por nada mais que um beijo seu...

Porém, nem sempre o que sonhamos se faz. E o que fazemos nem sempre se revela. Existem sonhos que duram apenas o tempo de o sonharmos até que venha a luz e o desfaça.

Desta forma, cumprindo o dever de anunciar-te o desmantelo de um imenso desejo, venho me despedir. E nestas últimas palavras peço que entendas que ao nos encontrarmos numa próxima vez, os versos poderão ser os mesmos, o sorriso semelhante, assim como o calor das mãos... Mas a mágica? Esta não mais estará no olhar.