CHAMPAGNE (UMA LIÇÃO DE VIDA)
Dionisio Teles
 
 

Alguns dias atrás recebi um email de um amigo, enviando uma poesia sua e que estava formatada com música. Tocava um antigo sucesso italiano da década de 60, chamado Champagne, com Peppino di Capri. Foi só começar a escutar e, imediatamente o meu pensamento se transportou para meus tempos de rapaz, em Salvador – essa música era minha paixão.

A maioria dos bares e boates da época, possuíam umas “machines”, envidraçadas e com várias luzes piscantes que, mediante a inserção de uma moeda, tocavam grandes sucessos musicais através de discos compactos. Explicação para os mais novos: compactos são aqueles filhotes dos LP’s – os famosos “bolachões”.

Eu cursava o “científico” no Colégio Central da Bahia e, algumas vezes por mês – quando sobrava uns “caraminguás” no bolso - freqüentava um desses barzinhos na Av. Sete de Setembro. Após certo tempo de assiduidade no estabelecimento, bastava eu adentrar no bar, e um dos garçons se adiantava:

- Me dá uma ficha aí, quem lá vem o rapaz do Champagne - berrava para o responsável pelo balcão.

Ele introduzia a ficha na máquina e, sem que eu pedisse, colocava para tocar Champagne, com Peppino di Capri, é claro. Não era incomum, durante uma noite, eu gastar umas 5 ou 6 fichas – todas com Champagne. Alguns freqüentadores do bar, chegavam a fazer cara de muxoxo com a minha insistência em escutar aquele hino ao amor, em italiano.

Foi lá que conheci a Graça – com o passar do tempo, seria Gracinha. Ela freqüentava aquele, e mais alguns bares da redondeza, oferecendo seus préstimos a homens carentes de sexo e afeto. Era uma mocinha nova – deveria ter seus 23 anos – proveniente do interior da Bahia, e tinha um sorriso franco e uma conversa agradável e inteligente.

Em sendo um estudante secundarista e de família pobre, os meus recursos financeiros eram - na proporção - piores que o PIB do Haiti. Por isso mesmo eu nunca tinha condições para pleitear a prestação de serviços da referida moça de vida difícil.

Numa bela noite, quando o movimento do bar e dela própria, estavam bem fracos, nos sentamos para comentar sobre maiores detalhes das nossas vidas. Ela me falou que seu maior sonho era passar no vestibular da UFBA e, inclusive já estava estudando bastante nas horas vagas. Confessou-me, quase chorosa, que o seu terror era a matemática – tinha horror à matéria e parece que a recíproca era verdadeira.

Quase que despretenciosamente, notamos que poderíamos fazer um escambo de serviços, interessante aos dois. Eu sabia razoavelmente bem matemática e, segundo se dizia no boteco, ela conhecia extremamente bem a arte de proporcionar prazer a um homem na cama. Naquele mesmo dia – escutando Champagne – decidimos implementar a nossa “joint venture” num apartamento de um amigo meu – na verdade, um “muquifo” perto dali. Ao terminar a noite eu já tinha o meu primeiro débito em conta-corrente com Gracinha.

Foram muitas aulas – de parte a parte – e cumprimos regularmente as nossas obrigações contratuais, até nos afastarmos naturalmente.

Não sei se ela aproveitou tão bem minhas aulas matemática, porém tenho certeza absoluta que devo ter levado vantagem com aquela parceria pois aprendi muito com os ensinamentos da querida amiga. Espero, sinceramente, que ela tenha passado no vestibular.