AQUELA CASA AMARELA
Cármen Rocha
 
 

Era como um sol, incrustada no alto do morro. Amarelo ouro. E para a fantasia da mãe, a própria vida em sua exuberância.

A coruja:? Este é o meu ninho...
Tudo o que desejo...

O pai gostava de bons vinhos e receber amigos com a vibração do piano. Havia o violino, da mãe a preferência.
E canções melodiosas.Então veio a Morte e as coisas
começaram a mudar.

A coruja:? As coisas começaram a
mudar... Ugh...

Chegou o filho mais velho, o Clóvis. Com os gêmeos. Percebia-se sua curiosidade pelos objetos de arte,pelas belas coisas, e também os estranhos cochichos...
Aquela Casa Amarela começou a sucumbir pela ambição. Perdeu o brilho.

A coruja:? A intriga toma corpo.
Tenho que desvirar a cabeça...

E chegou a mais velha, Elvira e a sua pequena filha. E os
estranhamentos aumentaram, e as expedições pela noite afora. A cobiça tomava força. A Casa Amarela estremecia!

A coruja:? Quanta luz acesa!
Não posso caçar...

A insensatez imperava,os herdeiros exigiam a venda. A conquista da Casa Amarela, pelo tempo e pela ambição. Sofrimento.

A Casa Amarela perdia brilho. Esmaecia. À noite, o silêncio imperava. A alegria perdeu o tom. Ela amarelava, por falta de cuidados e alegria. Só ruídos indiscretos.

Chorava a mãe pelos cantos. Pelos pratos saborosos não se
interessava mais, nem mesmo as receitas da velha senhora, sua mãe.

A coruja:? Não há mais restos de
comida. Os ratos estão rareando.

Tudo ameaçava os sentimentos. Uns entravam, outros saíam. Intensidade de más intenções. Pacotinhos! Pequenas coisas mudavam de lugar. Sumiam.

Até que a filha de Elvira... a filha de Elvira... desapareceu.
Todos choraram. Pelos cantos, pequenos sorrisos disfarçados. A alta janela da ala sul em vibrações malévolas... Elvira em
delírio se atira.

A coruja:? Muita comida... Ugh...

Na astuciosa área de cima, enforcados os dois filhos de Clovis balançavam como gêmeos ao luar.No décimo terceiro dia.

O pânico se instalou. Aquela Casa Amarela se recuperava.Clóvis em desespero, correu para a polícia, mas o grande tapete persa segurou seus passos, e ele se
estatelou no chão escuro. Sua mulher em pânico foi levada.

A coruja:? A força da Casa!

A mãe voltou aos poucos a cozinhar.Os lustres da Bavária ardiam em brilhos estranhos. O luar clareou a cerca.

A coruja:? Vejo melhor a caça...

Então, a mãe agradecida jogou um beijo para a casa, entrou
definitivamente, trancou a porta, passou ferrolhos, e aquela Casa Amarela, cor de ouro, resplandeceu.E a acolheu.
Para sempre.
 
 
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