TESOUROS DE UM PIRATA, NO FUNDO DE UM QUINTAL
Zeca São Bernardo
 
 

Despedi-me muito cedo dos brinquedos
De minha infância!
Eram miniaturas de super- heróis,
Carrinhos, bolinhas de gude, piões...

Lembro-me, claramente, de tê-los
Enterrado no fundo do quintal.
Lá de casa, embrulhados em plástico
Incolor e cerrados numa caixa de sapatos velha
Que alguém fora jogou,

Deixei ali meu legado para as futuras gerações?
Não, no máximo e com muita sorte, os filhos
de algum vizinho viram onde enterrei meu tesouro.
E no dia seguinte apossaram-se dele!

Ficaram só as lembranças...
Da casa sempre cheia em dias de festa,
De Golias, o gato, fugindo de Sansão
O vira-latas de três cores que adotamos
Numa noite de inverno que chovia.

Da juventude despedi-me com a pressa
Própria desses tempos.
Bailes frustrantes, pouco dinheiro e
Nenhuma preocupação em planejar um futuro!

Amigos? Lembro-me de todos eles...
Seus paradeiros, seus destinos,
Sabem mais as pedras de uma rua que eu!

Agora, meio desanimado
Um tanto cansado.
Aflito com coisas do dia a dia.
Procuro, desesperadamente,
Lembrar como se enrola a fieira
No pião...para ensinar a meu filho.

Num mundo de tanta tecnologia,
Ele parece-me fascinado com uma
Coisa tão simples.

Outro dia, tiramos uma tarde quase inteira
Em proveito próprio! Brincando com bolinhas de gude,
Não é que ele venceu-me nas apostas e
Tive que ir comprar mais bolinhas!?!

Tenho que lembrar-me como se faz pipas!
É urgente, para amanhã...antes do horário
Da exibição daquele desenho japonês que
Não entendo absolutamente nada!

A noite leio-lhe histórias de piratas, antes de dormir.
Na verdade, seguro o livro na frente dos olhos e conto-lhe
as histórias que aprendi com minha mãe.
Procurei por uma vida inteira, pela
Felicidade...e, só agora, percebo que
Há muito ela procurou-me.

Não nos sonhos que realizei, tão pouco d’algo
serviram-me as amarguras e frustrações de uma vida modesta.

E sim, naquela pipa que fiz com
Minhas próprias mãos e que voou para
Longe numa manhã de verão.
Nos brinquedos que deixei para traz, para outros
meninos que tinham menos que eu.

Nos dias que vivi, correndo atrás do gato e do cachorro.
Dos caminhos que trilhei...