QUE PAÍS É O MEU?
Bruno Pessa
 
 

De tão grande e pluralmente étnico que é o Brasil, você não precisa deixá-lo para saber o que é ser estrangeiro. Nunca ultrapassei suas fronteiras, mas já saí do interior de São Paulo para passar férias no litoral baiano. Se a questão é se sentir em outro país, em alguns momentos aconteceu comigo.

Primeiro porque sou branquelo, descendo de europeus. Em Porto Seguro, minoria esmagada. Não só pela predominância de negros e mulatos de todas as tonalidades, mas porque há também indígenas nativos. Segundo, porque lá estava cheio de argentinos – não digo infestado porque sou avesso a provocações... Impressionante a globalização dos pacotes turísticos. Eram tantos que eu me perguntava se estava mesmo na Terra Brasilis! (adendo importante: se os suspeitos falam um espanhol enrolado e as suspeitas não tem o quadril típico das brasileiras, são automaticamente taxados de argentinos, a despeito de todo o resto da América Latina...)

Porém, não posso crucificar os argentinos. No Nordeste, sou tão turista quanto eles, embora menos endinheirado e ingênuo – para lamento dos baianos. Esse é o grande pano de fundo: todos nós turistas somos estrangeiros. Bom para quem nos recebe e tira seu sustento graças a nós. Bom para nós, bem servidos na curtição do sol – ou, no meu caso, da sombra.

Mas por mais que uma mão lave a outra e, no final, todos saiam ganhando, uma pulga sempre me aparece quando viajo. O que me faz melhor que o nativo servente para ser sempre eu o forasteiro servido? A criança dentro de mim não tem uma resposta convincente. Quando ela crescer, espero que entenda. Ou melhor, se conforme com o imutável. Porque já é hora de se programar para as próximas férias...