CÔNICA NÚMERO 35
Osvaldo Pastorelli
 
 

é complexidade enraizada no lume da lamparina a indicar o caminho sem destino

é raio que de ponta a ponta corta o céu provocando o destino da chuva resfriando os pés peregrinos

é vento sinuoso dobrando o capim extenso a beira da estrada infinita

é cadencia de vindas sem idas brilhando nos olhos banhados pela água cristalina

é lava de vulcão sedimentando vidas na barriga da terra que usufrui do magma da criação divina

é ferida provocada por amigos, amantes, parentes e amores perdidos não esquecidos

é vaidade serena acumulada no terroso barro da neurótica agitada vida

é fio cortante manipulado por asquerosa mão invisível a conduzir nossas vidas

é água que o feno espalha tecendo os fios dos eventos históricos ridículos e fatais

é o fim sem meio na medida do provável onde cada vida vive sem receio da própria vida

é alegria estampada na sorte bem vinda de se ouvir a guitarra cristalina sorvendo um blues na vida sem ritmo

é retraído engano do pé ao tocar a calçada umedecida pelo pisar envelhecido das tradições

é passo desviado da bala perdida no cotidiano dos débitos em ganho e perda

é erro mais que acerto no aprendizado colhendo frutos secos perdendo-se no labirinto do contexto diário

é dor doida na contabilidade do débito e crédito lançando o saldo negativo em perdas e ganhos

é vento solto na crina do cavalo fogoso a galopar na planície suicida da vida mal vivida

é um sentir estrangeiro que enfurece e acalma ao mesmo tempo no perigo destino da vida

tudo mais é comum para os sentires pequenos no forjar da ferradura ao pisar o chão arenoso de areia movediça

uma vida é para ser vivida na paixão intensa de sentir a mão querida acariciando a pele ressequida

(crônica inspirada no poema "Balada como/vida", do poeta Anibal Beça, enviado para a lista no domingo, 17 de dezembro de 2000, às 08:38)

 
 
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