LUZES DE SÃO JOÃO
Dam Nascimento
 
 

Hoje o dia está frio, singelo e ártico como os pólos e eu como um bárbaro por uma estrada, sem certezas, sem rancor, um estrangeiro ao vento.Um corpo já então translúcido, fragmentado em mil pedaços. Procurava uma razão, mesmo que do tamanho de um átomo, como um bálsamo de vigor, de alegria. O meu olhar encontrou o céu e de certo modo procurava resposta para o que não tem explicação. Aguardava uma luz que não sabia se viria, o senhor do céu e da terra levou meu filho ao seu convívio sagrado; sem defesa, estaticamente via lágrimas continuas escorrer pelo meu rosto.

A dor que vinha do âmago me fez ser injusto e praguejar a vida, visto que todo pai sonha em perecer antes do filho. Não seria feliz nem nos jardins da Babilônia, não mais teria a resignação dos heróis medievais, seria inútil como uma tela de Portinari em uma pinacoteca em chamas, valores perdidos; apegado a vícios que só levam ao fim e assim, tocava a viola da seresta que cantava a minha vida.

Do lado de fora, vi as luzes de São João e como num estalo, ouvi a voz de meu filho a falar que tudo se completa num ciclo e quando tem de ser e no seu dia ele gostaria de virar uma estrela bela e florescente como as luzes de São João. Neste instante me ajoelhei e na primeira lágrima recuperei a essência da vida que para a alma foi projetada pelas janelas dos olhos. Um grito de esperança, um sorriso de fé, um pedido de perdão. Porque Deus ainda é tudo.