A ESCULTURA
Pedro Brasil Junior
 
 

Grandes encontros geralmente acontecem só na imaginação!

Vivemos uma constante busca por um desses encontros que criamos em determinados momentos da vida. E isso tudo porque realmente chega um dia em que o nosso desejo é largar tudo o que estamos fazendo para simplesmente sentir o fervor da existência.

Para isso, nada mais convidativo do que alguém especial, que nós sabemos existir em algum lugar, mas não temos a menor idéia de quem seja ou como seja.

Podemos caminhar pelas ruas todos os dias, se embrenhar nos shoppings, nos cinemas, nos grandes eventos e nada acontece. Ao redor, as pessoas são todas como formigas que ganharam asas e preenchem o céu com aquela infeliz surpresa. E a gente, feito pardal esfomeado fica observando para ver se uma delas é a que realmente desejamos. Mas isso passa, o céu fica limpo outra vez e lá vamos nós, trilhando a agitação do dia envoltos pelo trabalho. Só a mente é que segue esculpindo o que nosso âmago tanto almeja.

Um belo dia, porém, quando menos esperamos, acontece finalmente aquele encontro, de maneira completamente oposta ao que imaginávamos, mas sabemos de antemão que é aquele o momento e aquela, a pessoa. Não há como se confundir, pois existem situações ao longo da vida em que o engano não consegue atravessar o rumo.

E foi assim que um dia ela apareceu, quase por encanto, numa dessas esquinas da vida e dali, a gente passou a se conhecer com uma rapidez imensa. Tudo foi tão veloz que antes mesmo de imaginarmos, já estávamos envolvidos num daqueles momentos de amor onde o mundo pára e a gente esquece de tudo.

A distância tempos depois nos levaria quase ao esquecimento, no entanto, aquele encontro, naquele dia, foi algo repleto de magia e encantamento.

Lembro fielmente do seu rosto, do seu sorriso, do seu toque de algodão e de todas as suas formas perfeitas. Lembro da sua voz suave e de um olhar tão profundo que irradiava total sinceridade.

Mas o paralelo da vida aguardava-me distante e quando as turbinas do avião começaram a rasgar o ar, lembro bem do seu sorriso e do seu aceno tímido, praticamente dizendo que outro encontro daqueles jamais se realizaria.

E lá fui eu por entre nuvens resguardando aqueles inesquecíveis momentos de pura felicidade que transformaram um pedaço da minha caminhada.

Não se vive de recordações, mas por certo e apesar de tudo o que a vida impõe, aquele amor casual ficará impresso para sempre nos confins da alma.

E sempre que ouço as turbinas de um avião rasgar o ar, regresso pela imaginação àqueles momentos em que a vida acenou como uma dádiva, e a felicidade deu vida à minha escultura.
 
 
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