PREDADORA
Tatiana Rodrigues
 
 


Marina foi a loja de calçados comprar os sapatos que tanto desejou. Era uma mulher vaidosa, aparentemente forte e independente. Tinha em sua vida profissional o princípio de tudo, e se presenteava com pequenos mimos quando desejava se sentir melhor. O mimo da vez era um par de sapatos de couro de crocodilo. Ainda na loja, Marina colocou os sapatos para ver se realmente concluía a compra. O verde amarronzado brilhante e cheio de estilo do par de sapatos, a fez pensar em questões filosóficas descabidas naquele momento. “Réptil de grande porte que vive nas águas doces e se transformou em um par de sapatos?”. Lembrou-se que naquela tarde, negociava um grande e lucrativo contrato, fruto da vitória sobre um concorrente irritante, que a fez trabalhar dia e noite pensando em soluções criativas para ganhar a disputa. Com a lembrança destes dias passados, se olhou no espelho da loja. Marina se fez crocodilo, crocodilo se fez Marina. Viu-se com olhos famintos, sedentos. Seu corpo comprido, pesado, suas unhas longas e firmes. Marina venceu, matou sua fome! Saiu da loja com a sacola de grife, sem a mesma satisfação que sentia a minutos atrás. Marina seria reduzida agora a um par de sapatos? Pensou no depois, do depois e o depois? Sentia-se vazia, nas margens do lago lamacento, agora a vitima. Marina não tinha depois, Marina era uma predadora e nada mais!