SEMENTE VOADORA
Pedro Brasil Junior
 
 

Com toda certeza, alguma vez em sua vida você já deparou com uma “semente voadora”, levada pelo vento em razão dessa maravilhosa criatividade da natureza. É certo também que você até a tenha apanhado com as mãos, observado sua sugestiva forma de algodão finíssimo e depois, assoprado ao espaço para vê-la desaparecer na imensidão ao redor.

Verdade que jamais você pensou em descobrir que espécie de planta poderia nascer daquela sementinha e nem tampouco a respeito das razões que lhe permitiram aquela dádiva de singrar os ares.

Verdade também que nada disso importa se considerarmos as atividades todas que nos cercam a cada dia que passa. Mas aquela sementinha voadora tem uma relação direta com cada um de nós, pois um dia fomos sementes também e, apesar de não “voarmos”, chegamos para ocupar nosso lugar ao longo dessa passagem chamada vida.

Chegamos a algum ponto e assim como aquela semente, fomos levados pelo vento da existência a pontos distintos, com a pura finalidade de germinar, crescer e praticar sua função específica.

Ao contrário daquela sementinha que um dia se tornou árvore e ficou plantada em algum lugar, nós seguimos em movimento constante, buscando através do tempo o objetivo maior de nossas vidas que nada mais é do que a felicidade.

E felicidade pode ser traduzida de várias maneiras, de acordo com a vontade, a busca e o desejo de cada um. Desde os primeiros passos mais firmes em nossa caminhada, fazemos sempre as primeiras descobertas e com elas, sentimos sempre o estupor da “primeira vez”, que nada mais é do que uma chave para o grande portal da experiência. Vale dizer assim, que à medida que o tempo corre e nós avançamos pela vida, vamos formando um grande e pesado molho de chaves.

Pois bem; neste exato instante, você deve estar remexendo em suas chaves, relembrando suas passagens, seus erros e acertos e apostando que logo ali, mais à frente, irá deparar com um dos seus grandes projetos de vida.

Nestes tempos modernos, de valores transmutados, é preciso estar atento às armadilhas e a todos os sinais que nos cercam afinal; é bem sabido que a cada dia que passa, aumenta o contingente de desesperados e desiludidos e isso, sem contar com todos os milhões de indivíduos atingidos pela silenciosa epidemia do estresse e da depressão. E isso tudo, porque cada um esteja onde estiver, detém o direito de ser feliz, de sentar no banco de uma praça e ver realmente o que é um dia passar azulado e enfeitado pelos raios dourados do sol. Porque é um direito poder observar as crianças que brincam no parquinho, que jogam bola, que caminham tranqüilas com suas mães. E mais ainda – poder ouvir a algazarra dos pássaros no entardecer e vislumbrar a chegada da Lua em meio a cortina de estrelas.

Eu sei – não precisa questionar – isso é praticamente impossível numa época em que vivemos escravos da moeda e onde essa tal felicidade, por incrível que possa parecer, tornou-se a própria moeda, a chave mestra que permite comprar tudo, inclusive a doce ilusão de ser feliz.

Mas você pode vivenciar uma nova “primeira vez” – mudando sua rotina, seus hábitos, suas queixas e sua volúpia em amealhar quinquilharias só porque isso lhe dará uma melhor posição no meio em que vive.

Você deve praticar um novo exercício em suas manhãs, tão simples quanto abrir os olhos e estar ciente que a vida lhe aguarda lá fora. Consiste em simplesmente abrir as cortinas, deixar a luz do dia adentrar no ambiente e depois, agradecer pela dádiva de um novo e resplandecente dia pois, tenha certeza absoluta de que cada novo dia é sempre uma nova “primeira vez” porque cada novo dia que surge, é sempre diferente de todos os que você já viveu até aqui.

Deixe-se levar pela brisa da vida assim como aquela insignificante sementinha e você irá se surpreender com os lugares onde poderá ir, com as pessoas que poderá conhecer e principalmente, com as tarefas que deverá executar. Ao final desse novo dia, mesmo cansado, você descobrirá o quanto é feliz e se puder, dê um abraço em alguém, pois não sei se você já observou; mas enquanto muita gente pensa em ganhar um presente, tem um contingente de pessoas que adorariam, ao final de um dia, de simplesmente ganhar um abraço.

Faça de todos os seus momentos, uma nova “primeira vez” – e assim, você terá em suas mãos a chave mestra que abre as portas para a felicidade que você tanto almeja.