SEBASTIÃO
Silvia Pires
 
 

Sebastião, ou apenas Tião, como era conhecido nas redondezas, saía todos os dias às 05:30 da manhã, acompanhado pela sua inseparável enxada, para seu trabalho na roça. No caminho, admirava o nascer do Sol e seguia rezando, incansavelmente, por todo o trajeto. Louvava a Deus e agradecia por sua saúde, família, trabalho e por ainda conseguir botar comida na mesa.

Não sabia ao certo a data em que tinha nascido, mas acreditava que sua idade andava por volta dos 70 anos, pois seus movimentos já não eram ágeis, se cansava com mais facilidade e sua pele, curtida pelo sol, já demonstrava os sinais do tempo.

Contudo, isso não importava, pois apesar da vida simples, tinha sido feliz. Juntara-se a uma boa mulher, honesta, trabalhadora e que lhe presenteara com três filhos, que já adultos, cada um seguiu seu caminho pelo mundo afora. Sempre recebia notícias deles e sabia estarem bem e com saúde. Então, como poderia reclamar da vida, se Deus lhe dera tudo o que necessitava?

Apenas uma coisa ele desejava, mas não sabia se viveria o suficiente para conhecer. Era o tal do “mar”, que diziam que era a coisa mais linda do mundo e como em sua casa não havia televisão, nunca tinha visto. Todos sabiam desta sua vontade, inclusive seu patrão, homem de posses e também de bom coração.

Certo dia, Tião não se sentiu bem para se levantar da cama, estava fraco e todo seu corpo doía. Sua companheira lhe fez um chá de ervas medicinais pra ver se ajudava, mas até o meio do dia não houve melhoras e ele não foi trabalhar.

Logo começou a correr o boato de que Tião estava doente, pois era coisa rara para ele. No final da tarde, tomando conhecimento da notícia, seu patrão foi visitá-lo, notou logo que sua aparência não era boa, a palidez era intensa e seus olhos perdiam o brilho. Ele percebeu a gravidade do estado de Tião e achou que o velho não se levantaria mais. Foi para sua casa rapidamente e começou a procurar em seus pertences, os álbuns de fotografia das inúmeras viagens que fizera. Achando o que procurava e retornou á casa de Tião. Lá chegando, puxou uma cadeira para perto da cama, abriu o álbum e pediu que Tião olhasse para a grande foto que lá estava. Surpreso, Tião viu o patrão e a esposa abraçados e logo atrás do casal, estendia-se um mundaréu de água, que começa na areia branquinha e transformava-se numa imensidão de água bem azul. Seus olhos se encheram de lágrimas e olhando para o patrão, conseguiu dizer:

- Já vi muita coisa bonita por aqui, muito verde, muita flor e frutas, mas é a primeira vez que vejo um milagre de Deus desse tamanho, que coisa mais linda desse mundo!

O patrão, emocionado, deu-lhe a foto e despediu-se.

Naquela noite, Deus levou Tião embora. Porém, ele se foi segurando a foto consigo, com um sorriso no rosto e uma expressão de enorme satisfação, afinal pela primeira vez na vida, mesmo que através de uma simples foto, ele finalmente conheceu o tal do "mar."