CARTINHA
Doca Ramos Mello
 
 
Oi, Nan!

Que roubada, heim, chuchu?! Na sua idade, faça-me o favor...

Até decidi escrever p’ra você porque, de repente me deu umas idéias na cabeça, eu sou assim mesmo, penso e logo vou agindo, então fiquei sabendo do rolo em que se meteu e cá estou, mas que bucha, heim, cabra? Isso acontece, e se eu estivesse no seu lugar não esquentaria minha cabeça, amorzinho, bobagem, até porque seus amigos, aquele bando de velho safado, tudo com as barbas de molho e se borrando de medo de o feitiço virar contra eles também - porque a gente sabe que não são só solidários, são parceiros, hehehhe -, ficaram lá, só abraçando você, dizendo que é inocente, etc. e tal. Adorei a cara daquele plastificado que se casou com uma menininha e o jeitão singelo do Romeu Tuma, muito gozado... Aquilo é tudo uma putada só, com o perdão da má palavra, todos de olho nas bundas das moças, todos acreditando que podem seduzir mil mulheres com as carecas brilhantes e o meia-boca no vamo’ver, faz-me rir, a sedução que vale ali é a do talão de cheque, do apartamento mantido em lugar chique, das contas pagas, dos bons restaurantes, essas coisas, porque tem mulher que se cansa de dar o duro e encara, é da vida, não julgo ninguém. Bom, eu sou piranha mesmo, não disfarço, cada um é cada um.

Mas, como eu disse, seus colegas afirmaram que você é inocente...

Inocente o cacete, vamos combinar. Aqueles velhotes lá devem estar tudo de roscofe na mão, eu conheço o métier, Nanzinho, freqüentei as noitadas da RP, quero dizer, da República de Ribeirão Preto, ô tempo bom, que saudade! Era divertido, se ganhava um troco legal, a bebida era de primeira, mas veio o FDP do caseiro e jogou água fria na nossa balada, desgraçado. Eu acho que foi inveja, tipo quem está fora não entra e fica babando, mas a gente não estava lá p’ra fazer caseiro nenhum feliz, nós somos chapa branca, você me compreende, de modo que ele ficou sempre lambendo com a testa, vai ver acabou tendo ódio de nós, aí abriu a boca nojenta. Eu soube que ele não arruma emprego e está numa pindaíba que dá gosto, bem feito, tome, para aprender a não estragar o manjar alheio, canalha.

Bom, Nan, eu quero mesmo é oferecer meus serviços aí p’ra galera, com uma garantia adicional que acabei de bolar: certificado de laqueadura, com atestado médico e firma reconhecida, mais um contrato particular entre as partes – eu sou profissional, sou do ramo. Não quero ter filho de ninguém, mesmo sendo gorda a pensão, bem que eu vi a folgança da jornalista, a dinheirama que você, digo, a empreiteira, dá (ou dava, a essas alturas, miou, e você vai ter de se virar) p’ra ela por mês, isso sim é que é seguro de vida! As meninas dizem mesmo que um filho de um figurão é melhor que ganhar na loteria porque tem aquele lance de a mulher ficar ameaçando ir à televisão e botar a boca no trombone e assim, chove dinheiro extra na horta dela, o presente e o futuro ficam azuis, sei disso, mas eu detesto criança. É que criança cresce, fala, pergunta e foge do controle da gente, Deus me livre disso, e eu gosto do anonimato, não quero minha cara no jornal porque comigo, que sou pobre e abro o meu jogo, com certeza melaria meu negócio, duvido que alguém me convidasse para posar nua, como é comum a gente ver depois de certos escândalos. Até toparia me casar, vamos dizer, conheço muitas que se fizeram madames, não é ruim, ficaria um tempo com o trouxa, arrancaria uma nota dele e tchau, mas filho, jamais.

Então, eu sou um sossego para quem me contrata, não acha queridinho? Por que ficar se arriscando a, de repente, ter de contar p’ro mundo a pulada de cerca e ainda fazer a esposa passar o mico de se sentar lá e ficar ouvindo o marido a explicar o mais do que explicado, só que do jeito correto para enganar mané? Não há necessidade, hoje em dia tudo tem acordo prévio, preto no branco, eu sou profissional, ganho meu tutu e caio fora, a velharada aí não precisa se preocupar com pensão nem fundo para os estudos de ninguém. Aliás, grande lance, pena que o advogado da jornalista não colaborou, esses advogados são terríveis, se bem que na minha cabeça é ela quem está ouriçando o cara, ela quer ver o circo pegar fogo, você viu no que deu sua escapadinha? A sua esposa vai segurar o rojão, aliás, agarrou-se ao rojão, p’ra sorte sua, mas a mãe da filha que você teve fora do casamento está botando p’ra quebrar, ora essa, você acha que ela teve filho por diletantismo (como diria um intelectual que fiquei conhecendo aí mesmo, entre os seus colegas)? Santa roubada, amoreco...

Virgem, Nan-Nan, você não conhece camisinha?! Tanta propaganda aí na praça para a moçada segurar o tchan antes de se emocionar e vai você, um homem já entrado nos anos e me faz uma m... dessa? Task, task... Isso não é romantismo, darling, é burrice. Ou vai ver cachaça demais, cachaça detona o bom senso, não viu o sujeito do Carandiru? E um homem daquele, que mandou p’ro beleléu mais de cem numa tacada, ia deixar mulher dar fim nele lá, no apartamento dele, o cristão enrolado na toalha, apatetado, você acha? O que foi aquilo? Cachaça, caipirinha, pinga! Você também estava de porre, porre de autoridade, cachaça de poder, de grana fácil, Aguardente Senador, heheheh, que cochilo, chuchu...

Bom, comigo, não tem erro porque eu sou operada e exijo prevenção, não topo transar sem camisinha nem com o Brad Pitt. Precisando, sabe onde me encontrar, me dá uma ligadinha, benhê...

Da sua,
Danny Bambolê