PERDAS IRREPARÁVEIS
Silvia Pires
 
 

Ele abriu a porta de casa e imediatamente veio à sensação. Quase a fechou e voltou para a rua, mas o cansaço acabou vencendo. Precisava de um banho e de roupas limpas, pois o dia tinha sido duro.

O silêncio reinava por todos os cômodos da pequena casa, ele ligou a televisão para por alguma vida naquele lugar. Nem sequer escolheu um canal, nem mesmo prestou atenção ao que estava passando na tela, foi direto para o banho.

Na saída do banheiro, em busca de roupas limpas, deparou-se com a cama de casal,aquela que dividiram por tantos anos, e a dor foi lancinante. Pegou o travesseiro que ela usava e ainda pode sentir seu perfume, mesmo depois de tanto tempo. Lágrimas vieram-lhe aos olhos e ele deixou que elas caíssem livremente. Lembrava-se de seu sorriso espontâneo e da alegria com que ela o recebia quando voltava para casa do trabalho.

Isso tudo havia se acabado, assim como sua própria felicidade se fora junto com ela e também sua vontade de viver.

Vestiu qualquer roupa e foi para a cozinha, acompanhado pelas lágrimas. Em nenhum momento pensou em se alimentar, apesar do estomago reclamar insistentemente. Abriu a porta do armário e pegou a garrafa de aguardente, nem se deu ao trabalho de usar um copo, tomou o líquido diretamente da garrafa, que desceu queimando sua garganta e peito.Sentou-se na cadeira mais próxima e continuou bebendo.

Sabia que a solidão não o deixaria, mesmo afogando as mágoas na bebida, mas pelo menos ficaria tão embriagado que cairia na cama e por algumas horas, simplesmente esqueceria.