ANJOS DE PRATA, A SEGUNDA VEZ
Osvaldo Pastorelli
 
 

Saia de casa quando começou chover. Quando o céu deixa de ser igual a um céu deserto.

Voltei para dentro, liguei a televisão e esperei que o temporal se acalmasse. Não gosto de guarda-chuva, por isso tive que esperar um bom tempo, uma hora mais ou menos, até que o temporal diminuiu.

Mesmo assim estava caindo uma chuva fina, subi correndo a escada abri o portão e dei uma corrida até o ponto. Sorte que o ponto é bem perto de casa, uns dez passos do portão até ele.

Ainda bem que é coberto, está todo arrebentado, quase caindo, a telha quebrada, mas dá para se esconder.

O que me preocupava não era o agora, era quando descesse no metrô Consolação. De lá até ao bar é uma caminhada meio longa, vou chegar molhado. Sem pensar muito no que poderia me acontecer, peguei o ônibus. Gozada esse verbo: peguei, caramba devo ter uma força para pegar um ônibus! Bom então o certo será: tomar? Como tomar? Um veículo imenso desse! Então como se diz? Sei lá! Que seja qualquer um.

Ainda bem que o ônibus não demorou. Vazio, poucas pessoas, tive que viajar em pé, os bancos estavam todos molhados. Fui obrigado a afazer o trajeto todo em pé.

Estava com outro problema: quando chove ou ameaça chover, o metrô Zona Leste, o de linha Vermelha e que colocaram o nome de linha 3, não sei porque, pois ele foi o segundo a ser construído, por rodar ao ar livre, sua velocidade é reduzida e o tempo de parada nas estações é maior. Prevendo isso tudo, sai mais cedo para não perder o horário que estava marcado. Mas a viagem foi até que rápida.

Quando cheguei na Consolação e pude mais uma vez contemplar a bela Paulista numa tarde de sábado cinzento de chuva, mas bonito. A umidade dá um ar romântico no calçamento, na avenida, nos edifícios, principalmente se o sol ameaça em aparecer. Como não havia tempo para pensamentos poéticos filosóficos, estava um pouco atrasado, e a chuva parecia que novamente desabaria, me pus a caminhar mais rápido descendo a Rua Augusta. Andando rende à parede, a garoa apertava, ao chegar na Alameda Tietê, dobrei a direita até o Bar Balcão. Nem bem tinha me acomodado no banquinho e pedido um chope, desabou um tremendo temporal.

Aos poucos fui observando o pessoal chegar, não conhecia ninguém, apenas a Ana Peluso, portanto não foi difícil encontrá-la. Nos conhecemos no lançamento do segundo volume dos Anjos de Prata. Como sempre simpática, alegre, apesar dos pesares que a vida apronta, com seus projetos, ao lado do marido, músico excelente, inteligente que não deixou a conversar morrer.

O ano passado, no lançamento do segundo volume, não sei se por causa da chuva, mas tinha mais anjos do que este ano. Mesmo assim, os escritores Anjos de Prata estavam animados, distribuindo autógrafos, se conhecendo, se revendo, como disse a Ana, muitos saíram e muitos entraram no projeto. Ela tinha me convidado para entrar nos Anjos, não aceitei de pronto, estou pensando, o problema é a obrigatoriedade em escrever quinzenalmente, em mandar o texto, não sei ainda, vou pensar.

Esses momentos é preciso ser curtido do começo ao fim e, infelizmente não podia ficar até muito tarde. Dependia do metrô, por isso sai antes da meia-noite. Mas mesmo assim foi muito bom e gostoso, e, espero no próximo lançamento possa ficar mais tempo, quem sabe eu seja um dos escritores da próxima Antologia dos Anjos de Prata.

Veremos.

 
 
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