BLECAUTE
Adão Jorge dos Santos
 
 

Cheguei em casa e fui direto tomar banho. Meus dois filhos já haviam chegado da escola e estavam um no computador e outro jogando vídeo game, minha esposa estava assistindo a novela. Era uma noite fria de inverno e lá fora a temperatura estava muito baixa, o ar condicionado funcionava a todo o pleno. Entrei no banheiro e liguei o chuveiro para esquenta o ambiente. Liguei o barbeador e comecei a fazer a barba. Acendi todas as lâmpadas do espelho para poder me sentir um artista num camarim.

De repente falta luz e tudo fica as escuras. Começa então a gritaria pela casa inteira. Tento encontrar a tolha, mas ela não esta no lugar que eu imaginava. Apanho alguma coisa que parece uma tolha e enrolo na cintura e saiu do banheiro tateando a parede e entro pelo corredor tentando atender aos chamados urgentes. Minha filha grita que esta com medo e quer que eu vá ate onde ela esta. No mesmo instante meu filho, tentando vir ao meu encontro tropeça e cai fazendo um barulho enorme. Vou ate onde ele esta e escuto a voz da minha esposa dizendo que era para todos irem para o quarto enquanto a luz não retornasse.

Eu sabia que havia um lanterna com pilha em alguma gaveta do quarta-roupa. Pequei as crianças e levei para o quarto. Fui até ate a gaveta e encontrei a lanterna e assim consegui ver que eu não estava com uma tolha, mas com um vestido enrolado na cintura. Todos começaram a rir da minha deplorável situação. Fui ate a cozinha e encontrei alguns tocos de vela que acendi por toda a casa.

A energia demoraria para ser restabelecida e todos nos estávamos sem ter o que fazer. As crianças então começaram a brincar com as sobras projetadas nas paredes do quarto, depois comecei a falar que no meu tempo a gente não tinha luz nas casas e usávamos lampiões a querosene que e deixava um cheiro forte pela casa toda. Que também não tinha televisão, muito menos computador, apenas um velho rádio era presença marcante nas nossas monótonas vidas. Eles ficaram interessados em saber como é que agente conseguia viver sem ter nada que tem hoje.

Falei que escrevia em uma maquina de escrever que tinha um fita que sempre sujava os dedos e era preciso fazer curso de datilografia para datilografar um texto e que quando a gente errava tinha que se apagar com errorex ou jogar a folha fora. Falei que o meu game era o atari com cartucho repleto de jogos. Contei que a gente brincava de estátua, pega-vareta, vai e vem, stop, etc. e a noite estava apenas começando.