A VERDADE
Elói Pereira de Melo
 
 

Fora a primeira vez, que entrava naquele lugar. Os móveis, com um tom de rusticidade, uma cor de abandono. Um prédio antigo desbotado, cujas paredes o tempo estava encarregado de exterminar. Umas pessoas, que caminhavam por uns corredores enormes, que levariam não sei onde, uma mesa antiga, duas cadeiras, uma máquina de escrever, parecendo peça de museu, coberta de poeira, que mais adiante quebrou um pouco do silêncio.

Um homem forte que foram chamá-lo, dirigiu-se a sala onde esperava. Sentou-se e percorreu um ligeiro olhar sobre mim. Recorri do papel, já amarrotado no bolso. Para lembrar o nome.

A viagem feita especialmente para isso. Um breve olhar, mamãe com lágrimas nos olhos, desejou-me boa sorte. Desde o embarque, me auto questionava, de como deveria me portar. Falaria algo relevante, ou demais? A presença de alguém em minha frente me causaria algum tipo de constrangimento? A hora da verdade estava se aproximando.

Da rodoviária, passos rápidos. Não, não vou comer nada, a falta de higiene bucal pode alterar meu estado emocional, ou interferir no comportamento, ainda mais diante de uma pessoa, que tinha somente o nome, em um pequeno pedaço de papel.

Uma criança de quinze anos. Era como me sentia na época. O que acrescentaria no episódio? Talvez, fosse o fato de traumatizar-me para sempre, ou fazer com que tocasse com os pés naquele ambiente imundo.

Por que não disse logo a verdade? Não era para isso que estava lá? Talvez, não soubesse o que era a verdade, e poderia frustar o homem, não sabendo dizer o que queria ouvir, ou causando o inesperado.

Com as mãos trêmulas, sem saber como me portar, se me aproximaria da mesa, se cruzaria as pernas, os braços, se apoiaria os cotovelos sobre a mesa, se olharia firme nos olhos, ou deixaria cair ao chão, simultaneamente. A primeira certamente não seria a melhor.

Um menino com as mão grossas, a mãe e cinco irmãos mais novos, dependentes de tais braços para o sustento. Pouca escolaridade, que recebera em um meio rural, onde a professora referência na comunidade tinha somente o primário.

Porém, era eu e o homem, que sentado à minha frente, viera especialmente para me ouvir.

Se dissesse não saber a razão, de estar ali. Ou apenas, ser uma criança, arrimo de família. Que o local e a presença de alguém causava constrangimento. Que não estava me sentindo bem, que poderia voltar um outro dia, e então falaria a verdade. Ou dizer que não falaria nada.

Nas palavras da mãe, cujas letras apreendeu a desenhar, mentir feria os princípios cristãos. Era preciso sempre dizer a verdade.

Mas agora, diante do homem de bigode preto?...Posicionou as mãos sobre o teclado, de começou a escrever as primeiras palavras. Queria somente a verdade. E mesmo que falasse aleatoriamente, seria a verdade.

Desviando o olhar, e esperando que o momento acabasse, e consequentemente o tom dos imperativos, mantive-me ereto, mesmo sentindo arder as faces, e a ausência dos pés no chão". Não sei se disse algo. Cabisbaixo, ainda com resquícios, saí ladeira abaixo, as pernas trêmulas, na cabeça, a espera do tempo, foi mais um amanhecer.