TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS
Valéria Vanda de Xavier Nunes
 
 

Abril de 2007. Mais um feriadão. Que saudade de nossas viagens, de nossos feriadões tão esperados, quando saíamos todos para a praia ou para o campo, ou mesmo só para visitarmos familiares ou amigos. È feriadão sim, dos bons, quase cinco dias de folga, de alegria e prazeres. Ah! mas quanta diferença de outros tempos atrás. Agora estamos apenas nós, e sós.

A estrada sinuosa parece sem fim. Nesta noite imensa e brilhante de céu tão estrelado, enquanto o carro desliza pelo asfalto iluminado pelas estrelas, a lembrança de outras viagens surge em minha mente como se fosse um filme antigo, as imagens aparecem atropeladas na minha lembrança como se cada uma quisesse se fazer presente antes das outras. São tantas as lembranças... Elas chegam desde as mais remotas quando nossas filhas ainda eram pequenas. A mala do carro muitas vezes se tornava pequena para os carrinhos, as banheiras, as malinhas, as mamadeiras, os brinquedos, toda aquela parafernália que as crianças possuem e que todos os pais de filhos pequenos conhecem muito bem.

Os anos vão passando e as viagens continuam. As filhas já estão adolescentes. Como não lembrar de suas conversas no banco traseiro, das brigas pelo melhor lugar- o das janelas, é claro - das risadas por qualquer coisa engraçada que surgisse na estrada, das letras das músicas cantadas em voz alta para encurtar a viagem, das piadas, dos lanchinhos, das paradas para fazer xixi ou para tomar água-de-coco, das brigas e das pazes...

Os anos vão passando e as viagens continuam. Mais feriadões. Mais passeios. E elas sempre crescendo. Uma das filhas agora com namorado, logo... mais um viajante, mais conversas, mais brigas, mais risos... mais pazes.

Como eram “divertidos” aqueles passeios; divertidos e ao mesmo tempo tensos. Divertidos quando elas não estavam discutindo por qualquer coisa, e tensos quando nós pais, tínhamos que apartar as brigas por qualquer motivo. É isso...Filhos são assim mesmo, como dizia o filósofo “Filhos..melhor não tê-los, mas se não os temos como sabê-lo”. É isso, são todos iguais só mudam de endereço.

Agora, cá estamos nós, viajando sozinhos novamente, só que não mais como nos velhos tempos. As filhas já adultas, cada uma com seus próprios interesses, cuidando da sua própria vida, já não dependendo totalmente de nós. Enquanto o carro desliza pela noite imensa e silenciosa, este silêncio vai me levando pelos caminhos destas lembranças e eu me dou conta da tristeza que vai se formando no meu peito, e é uma tristeza danada! È como se tivesse faltando algo no carro, como se tivéssemos esquecido alguma coisa muito importante, e aí descubro que realmente está faltando algo sim, está faltando a presença delas – das nossas filhas – sem elas parece que nossa vida está incompleta, nada tem o mesmo gosto, o mesmo prazer, a mesma alegria. De vez em quando movo a cabeça para o lado na esperança de ver pelo menos alguma delas, mas, ai de mim! Já não estão mais lá. Como sinto falta de ver Juli escorada no ombro da outra, a dormir... Como gostava de dormir em viagens, era só se acomodar, pegar seu travesseiro,e dormir. . Sinto falta do silêncio de Lulu, sempre pensativa, estudiooooosa... Sempre com o pensamento nos esquemas, nas fórmulas, nos exercícios, enfim, nos seus estudos. Sinto falta também de Pollyanna, a mais velha, sempre no meio, sempre separando as desavenças, sempre a conciliadora.

È assim, a vida tem dessas coisas, ela é feita de perdas e de ganhos. Ganhamos quando vemos como todas as nossas filhas estão encaminhadas na vida; cada uma a preparar o seu destino, e perdemos sim, quando ficamos “sozinhos,” a desejar a presença delas. O jeito é nos conformar, é pensar que daqui pra frente temos que nos acostumar a viver com nós mesmos, aprendendo a enfrentar dias compridos e noites imensas de saudades, pois este é um tempo que passou e que por mais que queiramos, não voltarão jamais.