THE DUKE
Claudio Alecrim Costa

Dentro da garrafa de uísque a luz anêmica do meu apartamento flutuava no mar espumante onde eu via Duke Ellington, Johnny Hodges, Bubber Miley e toda a banda, enquanto casais dançavam It Don't Mean a Thing submersos em delírios alcóolicos feitos de swing, ragtime, Bronx, Shakespeare, Cotton Club, mulheres cheirando a sexo, gravatas borboletas e risos de papel de uma felicidade breve...

Estiquei o braço cansado e peguei o pequeno universo criado pela minha loucura despejando no copo como uma tormenta, que explodia no vidro e me cegava com borrifos de blues, "wah-wah", Harlem e o sorriso largo de Fats Waller.

Os cabelos de Tereza cobriam seu rosto e o corpo prolongavasse sinuoso, em meio a roupas esquecidas e lençois infestados de querubins no cío.

Sentei ao seu lado e toquei suavemnete seus cabelos. Esticou-se voluptuosa até abrir os olhos e sorrir um sorriso infantil.

- Afonso!

- Continue dormindo...

Deslizou sua mão no meu rosto e beijou a minha que ainda segurava o copo de onde eu podia ouvir a algaravia vinda do Harlem...

- Você está engrançado...

- Eu estou ficando velho...

- Te amo...

- Passei a noite olhando a luz da noite sobre o seu corpo...

Mergulhei no profundo mar de Tereza até me perder. Meu corpo tremia pela febre que tomara conta de mim há muito tempo. Explorei a pele quente e macia até tocar os seios túmidos. Suas pernas deslizavam traçando desenhos no fino lençol encardido. Escutei meu copo caindo no chão e buzinas de carros e Coltrane inundando todo o quarto com seu Supremo Amor.

Quando acordei a luz do sol fazia o velho mobiliário estalar. Ao lado da cama, meu copo e um bilhete lacônico de Tereza. As letras arredondadas denunciavam a pouca idade e o cuidado com que escrevia. Eu esperava Byron e Musset e todo romantismo de que pudesse me fartar, mas Tereza me tratava com cuidado e preocupação, deixando um beijo de que ainda podia sentir o hálito. No copo a noite imensa feita de uísque e jazz.

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