KAFKA, KANT E A CEL. CHICUTA
João Gilberto Engelmann
 
 

Acho Passo Fundo uma cidade interessante. Não maravilhosa, interessante. Interessante eu achar isso, afinal, não há muito estou aqui. Mas ninguém me disse que tempo é verdade. Já me disseram que tempo é dinheiro, mas aí é outra coisa...É por isso que opino. È por isso que me atrevo e, ao mesmo tempo, apelo às autoridades da polícia, salvem-me dos linchadores! Mas penso que liberdade de expressão é isso, cara, dizer sobre o mundo de maneira bem articulada e racional. Um tanto que pretensioso, talvez, mas verdadeiro, sem falsas humildades. Acho a humildade, pelo menos a que há por aí, uma falsidade escondidinha atrás de muita balela pra bobo (é bobo mesmo, não boi), dormir. Um pé no saco!A humildade é uma coisa, cara. Coisa séria! Eu não sou humilde, digo isso. Humildade não é se desmerecer em função de uma ou outra caridade ingênua e cega. Coisa séria mesma!

Mas é certo que acho Passo Fundo interessante. (calma, não vou começar tudo de novo). Que outro lugar é a capital nacional (brasileira, é claro) da literatura? Só aqui é que é, cara! Agora, se merece ou não o título, isso já não sei...Que outro lugar possui ruas tão interessantemente desenhadas que as nossas Chicutta e Sete de Setembro? ( Nunca entendi essas duas ruas). Que outro lugar tem tantos pássaros na praça que incitam o exercício físico?, afinal, quem não passa correndo embaixo daquelas árvores corre o perigo de não sair ileso de lá. E a Moron? Um charme, não fosse tão estreita quando passa pelo centro. Mas chega de pessimismos! Prefiro mudar agora. Hum, vejamos...é...Do que vamos falar num sentido mais elogiativo? Gosto, e isso não tem nada a ver com humildade, de perceber a imaginação e potencialidade das pessoas e deixo a vocês tão exigente e peculiar exercício. Porque, apesar dos pesares ( ô expressão mais sem sentido) gosto de Passo Fundo. Mas não gosto porque ela é melhor ou pior que a capital, por exemplo, gosto porque sim. Assim... acho que é intuitivo e, preventivamente, prefiro não passar muito pela Marechal Floriano.

Talvez sinta falta de algo.Talvez ache que sinto falta de algo mas que assim não o seja. Talvez deva freqüentar mais o schopping e conhecer o "bombar" de meus colegas jovens. Talvez deva ir mais no Esso Moron pra tomar cerveja Long neck e alardear toda a Passo Fundo. Talvez eu vá. Ou fique em casa, como de costume, e leia as chatisses de Kant ou os desabafos de Kafka, sei lá. Prefiro às vezes. Se identificam comigo...talvez não, porque às vezes não gosto do que ele escreve, o Kafka. E, quase sempre, não gosto do que Kant escreve. ( ficarei bem depois de escrever isso?). São opções! Mas será que devo então participar das romarias? Hum...porque não? Talvez sim...ou talvez deva dizer o que penso? Penso não saber. Mas o que eu tenho certeza, é que ninguém faz por mim. Eu é que penso, eu é que sei de mim mesmo. O que de mim dizem no máximo é verossímil. No máximo. Mas às vezes as pessoas acertam, dizem algo de mim que é verdade. Ou me convencem de que sou de determinada maneira. Talvez sinta falta de algo, talvez deva...

A mesmice é como gota d'água na cabeça. Uma tortura! Quem a vive é que sabe. Prefiro variar, daí um dia sou legal e noutro estou de mal humor. Ninguém sabe como me encontrará. Meus escritos ( já me disseram isso) são umas bobagens. Minha rispidez e austeridade são insuportáveis. Concordo. Mas é melhor que a mediocridade. "Mas o que é mediocridade D. Hélder? _ Mediocridade? Mediocridade é poder fazer 90 e fazer só 80!" Acho que concordo...prefiro ser insuportável do que medíocre! E isso porque o medíocre nem de sua mediocridade sabe. O insuportável sabe que o é, e sabe muito mais do que isso...prefiro uma conversa com um insuportável do que trocar figurinhas, mais do que isso não se consegue, com a mediocridade. Se também estou sendo medíocre não sei, sei que estou sendo insuportável, e isso, talvez, para os medíocres...