REFLEXÕES (IN)COERENTES
Ana Stela
 
 

Ser em transformação, sempre em busca de algo, de alguém, de si mesmo na verdade.

Camaleão que se adequa aos ambientes sociais, profissionais, familiares, mas que demonstra imensa dificuldade de ajustar-se aos limites de seu próprio eu, aos limites de seus sonhos e desejos acalentados na solidão dos seus dias infinitos.

Metamorfose ambulante, kafquiana, maluca, incessante, num eterno morrer-e-renascer, em que o velho homem (inquilino indesejado que se recusa a abandonar a velha morada) cede sempre espaço ao novo homem (guerreiro, arrogante e insensível), que, para usurpar-lhe o lugar, desfere o golpe de misericórdia, arrancando-o à força, num verdadeiro parto de si mesm.

Sujeito às forças contraditórias e desequilibrantes do viver-nosso-de-cada-dia, somos todos: homem, espécie humana, descendente dos anjos, adotado pelo diabo, rejeitado por seus semelhantes!

Tão iguais em nossas diferenças, à procura de felicidade e reconhecimento!

Quem sou eu? Quem somos nós? Em que época surgimos neste universo sem fim? Qual será o nosso destino? Aonde deveremos chegar, enfim? De que fardos deveremos nos livrar, como cascas que se soltam nessa mudança de pele, que nos expõe o interior tão sofrido,trazendo ainda mais dor no longo e necessário processo de depuração da alma?

Quanto tempo, quantos dramas, quantas tramas do destino já vivemos e criamos?

E com que força nos agarramos à ilusão de nossa importância tão pequena, pois tudo é tão passageiro e mutável.

Nada é para sempre, nem mesmo nós, projetos de deuses que não deram certo.

Quem sou eu? Quem somos nós? Aonde queremos chegar, senão ao mesmo lugar onde estamos agora, apenas mergulhando cada vez mais fundo dentro de nossas verdadeiras emoções, desvendando nossos mistérios e nos entregando finalmente nos braços do Criador?