DECLARAÇÃO PERFEITA
Karina Machado
 
 

Ela era jovem, estava com 23 anos. Dona de uma beleza invejável e surpreendentemente culta, o que lhe permitiu conquistar com certa facilidade o que muitos sonham: era bem-sucedida.

Não é difícil imaginar que ela tinha muitos amigos, sim, e amigas também. Além de tudo, Laura tinha um talento especial, ou melhor, tinha uma volúpia pelas palavras. Tudo o que dizia era rigorosamente calculado; falava baixo e claramente, mas ninguém podia deixar de notar seu vocabulário e pontuação correta, sempre com muita naturalidade. Engana-se quem pensa que isso era agradável, talvez o fosse para quem a ouvia, mas não para ela, esse era o seu martírio oculto.

Ironicamente, Laura não tinha namorado, apesar de ter muitos pretendentes. Ela idealizara um homem para si, e somente com ele compartilharia sua vida. Esse homem teria o dom da palavra e certamente ela o reconheceria, imaginava.

Muitos foram os homens que a cortejaram, muitos deles nobres; eram bonitos, ricos, elegantes, inteligentes, agradáveis, etc. Mas, entre todos eles, um sofria profundamente pelo seu amor, verdadeiramente merecido e até pouco tempo oculto.

Ricardo padecera, não suportava mais ser visto por ela como um grande amigo. Nunca lhe confessara seu sentimento, mas havia decidido, lhe enviaria uma carta e declararia o seu amor.

Ficou aflito, escreveu e reescreveu a carta. Finalmente estava pronta, e provavelmente Laura a estaria lendo agora. Arrependera-se, estava convencido de que ela o recusaria, e mais, cortaria o laço, acabaria a amizade. Entre soluços, decidiu dormir para sempre.

Quando Laura o procurou, com um sorriso imenso e um brilho nos olhos que só a felicidade feminina é capaz de emitir, percebeu que chegara tarde demais. A carta de Ricardo era perfeita, o sinal que esperou durante toda a sua vida.

Caiu de joelhos, tomou-o nos braços e chorou. Quando se recompôs disse:

- Que palavras eu poderia usar agora, senão obrigada por me libertar, meu amigo!