CLARA
Valéria Vanda de Xavier Nunes
 
 

São quatro horas da tarde. Estou neste momento me balançando na rede do meu quarto e me lembrando que amanhã será o dia que Clarinha comemorará dois aninhos de vida. Dois anos! Como o tempo passa depressa! Parece que foi ontem! Jamais esquecerei aquela tarde. Posso confessar com certeza, que foi a tarde mais bonita da minha vida. E como poderia não ser, se foi naquela tarde que a minha netinha conheceu a luz do dia, que abriu os seus lindos olhinhos pela primeira vez, que pela primeira vez seu corpinho sentiu frio ou calor, não sei... e sentiu também o seu corpinho ser abraçado pela sua mãe, que chorou e molhou de lágrimas seu rostinho rechonchudo?

Realmente, aquela foi uma tarde inesquecível, emocionante, alegre, e por que não dizer engraçada. Engraçada sim, pois ocorreu um fato que nos levou às gargalhadas.

A mim, sua avó ansiosa, a sua tia eufórica e ao seu nervosíssimo. Não posso deixar de contar o motivo de nós três termos rido tanto naquela tarde. Estávamos os três ansiosos a espera do momento que nos seria anunciado o nascimento de Clara. Caminhávamos pelos corredores do hospital cada qual envolto em seus próprios pensamentos.

O apartamento do hospital já estava todo arrumado com o seu enxovalzinho.Na porta do quarto já estava a plaquinha com o seu nome; só faltava mesmo a presença de Clara e de sua mãe. Eu estava tão ansiosa esperando sua chegada, que não percebi quando uma enfermeira vinha caminhando muito ligeira com um "embrulhinho” nos braços e passou por mim apressadamente. Juliana e Wladmir vinham logo atrás e me diziam "olha a menina, olha a menina...! Eu, completamente alheia, não atinava para o que eles diziam, e Juliana repetia... "Olha a menina, mamãe"!.

A enfermeira continuava andando depressa. E eu perguntei – “ A menina? Que menina” E Juliana já rindo muito disse, "Clara, mamãe!" . Foi aí que minha ficha caiu..

E então eu fiquei doida de alegria, pedi que a enfermeira parasse pois eu queria ver a minha netinha pela primeira vez. Gente!... Quase tive um troço! Clarinha ainda estava toda suja de sangue, roxinha, e inchadinha. Mas mesmo assim foi amor à primeira vista o que senti por aquele embrulhinho ali na minha frente. Naquela mesma hora me apaixonei por aquele serzinho tão roxinho, tão feinho, e tão sujinho. Foi amor á primeira vista sim... Faz exatamente dois anos e garanto a vocês que ainda estou e serei sempre apaixonada por ela.

Clara deu um novo sentido a nossa vida. Ela é hoje o nosso bem mais precioso, hoje é impossível pensar em viver sem ela. Clara é tudo para nós.

Agora, neste momento da nossa vida em que começa o ciclo das "perdas", Clara é sem sombra de dúvidas, o nosso maior "ganho". Quando digo perdas, estou falando no sentido de que estamos nós, seus avós, num um período de nossas vidas, em que começamos a perder nossa juventude e nossa energia; num período em que nossas filhas já começaram a voar com as suas próprias asas e não precisam mais tanto de nós, e aí Clara chega... E com ela chega também um novo sentido para as nossas vidas, pois quando estamos ao seu lado nos sentimos jovens outra vez, revigorados, sentindo cada vez mais vontade de viver para vê-la se tranmsformar numa criança, numa jovem e numa mulher muito feliz.