0 ZERO = IGUAL (A MIM)
Edison Veiga
 
 

Zerado, à esquerda de mim mesmo, uma folha que se fosse branca estaria em. Verde, não.

- Bom dia.

Eu já escrevi isso antes. Várias vezes. E não há antitexto que persiga, porque o sono aturde, os olhos ardem secos, a preguiça mora. Uma idéia, fixa: minha felicidade, na boca de outrem. O resto? Invencionices, ao acaso, efemeridades, riscadas, sem rastos, sem, nada.

Zerado, à esquerda de mim mesmo. Vamos contar os beijos, enumerá-los, criar rótulos nervosos, impingir-lhes um código de barras, um código secreto e um código aberto. Um gozo para cada.

Zerado, à esquerda. Dos beijos aos semáforos, sinais, vermelhos, verde, não.

- Boa tarde.

Estávamos falando do maldito destino, aquela vontade de darmos um mergulho juntos, a coleção atropelada dos sonhos de outrora, o ritmo sem-volta da vida, os semicírculos, os círculos, os duplocírculos, os circos em chamas, a música tocando tocando tocando no modo repeat, as irritantes notas, os irritantes acordes, o barulho a arrepiar minhas barbas, o medo, o medo, o medo, o pavor. Em pânico.

Recomeçar de novo. Zerado, à esquerda de mim mesmo, uma folha branca, em branco, brilhante, depois cheia, de coisas escritas nela. Com caneta verde. Ou lápis de cor. Verde.

- Bom dia.

Eu já escrevi isso antes. Várias vezes, um pouco antes, só ali atrás. E aqui é a dor, que me persegue, o medo de que as idéias se desgrudem e junto delas ralo abaixo escorram felicidade, bocas, sexos, invenções, efemérides, promessas vãs. Um corpo lindo, de moça, a me encantar no escuro.

Zerado, à esquerda de mim mesmo. Um placar de beijos, outro de gozos. Zero a zero. À esquerda de mim mesmo. Um filho, uma falha, uma folha em branco, branca, verde – ia escrever esperança, mas não quero me perder nos lugares muito, comuns.

Zerado, à esquerda. Amálgamas, amores, amassos, omissos, um míssel. Sinais nos corpos, nus.

- Boa tarde.

Estávamos falando do maldito destino, aquela vaidade de darmos um mergulho juntos, o coração atropelado pelos versos de outrora, o ritmo sem-volta da vida, os semiquadrados, os quadrados, os duploquadrados, os quartos em chamas, a música tocando tocando tocando no modo tédio, os irritantes danos, os irritantes enganos, o barulho a arrepiar minhas babas, o medo, o medo, o medo, o pavor. Em lástima.

Recomeçar de novo. Zero à esquerda de mim mesmo, um filho branco, em branco, brilhantes, depois cheio de vida, escrita nele. Com caneta verde. Ou lápis de cor. Verde.

- Bom dia.

Eu já menti isso antes. Várias vezes, um pouco, antes, só, ali atrás. Os semitriângulos, os triângulos, os duplotriângulos. E aqui não tem mais nada, não tem boa tarde, só sobrou

- Boa noite.

Em pânico. Em lástima. Em arrependimento.