SENTIDOS
Júlio César Caetano
 
 

- Sandra, eu não acredito nisso! Você?

- Eu sei, Martha, mas não deu pra controlar. Eu não agüentava mais.

- Mas o Paulo Henrique e você parecem tão felizes, o Jorge vive comentando comigo que chega a dar inveja de vocês, sempre tão felizes.

- Aparências, Martha.

- Não dá pra crer.

- É... eu também não achei que um dia isso pudesse acontecer. Aconteceu.

- E quando foi?

- Semana passada.

- Como foi, Sandra, pelo amor de Deus!?

- Um desconhecido, Martha, um desconhecido. Aí você vê meu desespero. Eu estava almoçando no Evandro´s, aquele restaurante perto do escritório. O homem estava sentado numa mesa atrás da minha. O seu perfume tomou conta do ambiente quando entrou. Ai, Martha, eu olhei pra trás um três vezes e nas três nos encaramos. Quando percebi estava almoçando na mesma mesa que ele...

- E depois tava na mesma cama.

- Na mesma cama...

- Valeu?

- Se valeu? Não queria dizer, mas valeu... está valendo.

- Sandra! Então vocês ainda...

- Sim, toda quarta. Sempre na hora do almoço.

- E o Paulo Henrique?

- O Paulo Henrique... não sei. Martha, parece que estou casada com um robô que não sente nada. E eu preciso ser sentida. Preciso ser pega, cheirada, vista, ouvida e, principalmente, degustada. E nessas coisas o Matias é um verdadeiro bicho selvagem.