UM SINAL
Cris Dakinis
 
 

Girou o volante à esquerda e freou no espaço de retorno para aguardar o sinal abrir, enquanto mantinha o pé no freio e a atenção contínua ao semáforo e à pista defronte. Passaram-se aproximadamente dois minutos que pareciam intermináveis. Preparou-se para avançar pela pista, mas nada... O sinal continuava fechado! Decidiu olhar o relógio: era evidente que sua impaciência devia estar "prolongando" o tempo, e que aguardava por passagem há menos tempo do que supunha. Observou os ponteiros do relógio com o semblante intrigado. Olhou para o lado, a fim de ver como o motorista vizinho encarava aquela estranha demora. Não havia ninguém ao lado; nem atrás do carro... De novo, olhou para o mostrador do relógio. Inacreditavelmente, parara o carro há mais de cinco minutos e não conseguia avançar pela pista, pois não surgia uma brecha dentre o fluxo veloz e incessante dos carros ao longo da pista principal. O carro "morreu", e ao religá-lo, precisou aumentar a potência do ar. Embora já estivesse no "frio máximo", sentia o suor escorrendo pelos cotovelos... Que situação! Resolveu arriscar-se a alcançar os carros à frente, mas era impraticável! "E se levasse uma multa por avançar o sinal?" __ Pensou.


__ Dane-se a multa!


Reparou, porém, que não havia nenhum guarda ao redor, nem outros carros ao seu lado... Era tempo de alguém ter parado por ali... "Pronto! Na certa, parara em local proibido. Tentaria uma marcha à ré, pois era evidente que não haveria outro meio de sair daquele impasse." __ Decidiu-se.


No entanto, observou pelo retrovisor que um carro aproximava-se por trás... "Isso dificultaria passar a marcha à ré. Precisava explicar àquele motorista que o sinal estava enguiçado, antes que aparecessem mais carros na fila de espera." __ Pensou.


Começou a sentir um aperto no estômago, uma sensação de leveza na cabeça e um calor inexplicável atravessando-lhe. O carro "morreu" novamente. Após religá-lo, olhando para trás, não mais viu o outro carro, que por pouco tempo lhe fizera companhia... Conseguiu discerni-lo ao longe, adiante, seguindo o fluxo dos carros. "Mas como aquele veículo conseguira passagem?" __ Admirou-se.


Seu carro "morreu" novamente, e foi aí que desconfiou: "Havia morrido. Só podia ser isso: morrera; decerto! Carros ultrapassavam seu veículo, seu corpo... Tudo tão estranho!" __ Ignorava como deveria proceder dali em diante. Experimentou uma sensação de perda. Depois, vontade de chorar. Chegou mesmo a sentir uma absurda alegria: era segunda-feira, não precisaria preocupar-se com a repartição... Voltou, porém, ao raciocínio lógico. Se é que mortos raciocinam... Lembrou-se de suas obrigações do dia, do mês, da vida. Recordou-se de boas e más lembranças. No coração, uma imensa vontade de ter perdoado quem lhe magoara e de pedir perdão aos que porventura houvesse magoado.Coisas de quem morre; tarde demais... Contrariamente àqueles ponteiros que se arrastavam, agora, o tempo "voava". Por sua mente, toda sua vida era exibida como um filme em avanço máximo. "Mas que calor era aquele que sentia? Onde fora parar depois da vida?"


Saiu do carro e sentiu no corpo a tão conhecida brisa constante e fria que vinha da lagoa... Um alívio que era aquela sensação! Então, ouviu uma voz familiar:


__ Essa sua mania de dormir de edredom! Faltou luz e o relógio não despertou. O condicionador de ar desligou, e você aí suando! Tive de abrir as janelas para entrar um ar... Já é tarde! __ Alertou sua zelosa irmã.


Sem saber se ria ou refletia; chorava ou se apressava... Pulou da cama. Tomou uma ducha e, em seguida, rumou para a praia. A água verde-mar acenava com sinal livre! Que melhor forma de curtir seu primeiro dia de férias?