O CRIADOR DE CHATOS
Raymundo Silveira
 
 

- Profissão?
- Criador de chatos.
- Perguntei, profissão.
- E eu respondi: criador de chatos.
- Amigo, aqui não é local de brincadeira e...
- Não sou seu amigo, nem estou brincando.
- Quer dizer que o senhor cria chatos?
- Em cativeiro.
- E vive disto?
- O senhor acha mesmo que eu...
- Um momento. Pessoal, esta é boa...
- Ia criar chatos pra quê?
- O cidadão aqui é criador de chatos.
- Criador de quê?
- De chatos.
- Pra que este pessoal todo vem pra cá?
- Talvez estejam achando muito boa a sua história.
- Qui história? Eu não tô contando história alguma.
Apenas declarando a minha profissão.
- Onde fica este seu viveiro de chatos?
- Ora, cara. Aonde você acha que se criam chatos?
- Sei... Mas só no senhor mesmo?
- Em mim mesmo o quê?
- Quero dizer... O senhor sozinho dá conta?
- Não. Tem minha mulher que me ajuda.
- O que é que eles comem?
- O que você acha?
- Pelo que sei, chatos se alimentam de...
- Pois é isso mesmo.
- Então, só o senhor e sua mulher cuidam dos reservatórios?
- Não. Há também um casal de empregados que...
- Qual é a média de produção... Digamos, mensal?
- Bem, produzimos uma média de cinco toneladas por mês.
- O quê? O senhor ainda continua achando que tenho tempo pra brincadeira?
- Quem está brincando, pô?
- Como é que quatro pessoas agüentam cultivar cinco mil quilos de chatos...
- É que eles são pequenos...
- Mesmo assim.
- Pois pode acreditar: exportamos toda a produção.
E quer saber duma coisa? Este papo já tá muito chato.
- Está me chamando de chato? Chato é o senhor...
- Por que qui eu sou chato?
- Porque vem me chatear aqui com história de criar chatos.
- Mas se eu crio chatos... Queria que eu dissesse o quê, seu chato?
- Já disse: chato é o senhor
- Chato é o senhor...
- É o senhor...
- ...
- ...
- ...